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Nitya Dharma
A eterna função da alma
Sri Srimad Bhaktivedanta Narayan Goswami Maharaj
As palavras sanscrita nitya-dharma (eterna, intrísica função religiosa) automaticamente pressupõe um praticante desta função. Isto é devido á inseparável conexão entre a função religiosa por si só e o praticante. Temos o exemplo da inseparável relação entre a água e a liquidez ou entre o fogo e o calor.
Antes de considerar a não nascida religião, ou a inerente obrigação ocupacional de toda entidade viva, é essencial primeiramente refletir sobre a verdade fundamental das entidades vivas. Assim, vamos considerar primeiro qual é esta verdade “Eu”.
O Chandogya Upanishad narra a história do semi-deus Indra e Virochan pela qual o princípio fundamental da alma pode ser compreendido.
No começo da era dourada, milhões de anos atrás, o universo inteiro foi dividido em dois grupos. Os semi-deuses e os demônios. O líder dos demônios era o Rei Virochan e dos semi-deuses era o Rei Indra. Eles disputavam para conseguir felicidade e desfrute sem igual. Então, com uma postura invejosa e rancorosa um com o outro, eles aproximaram do pai do universo, Brahma, e perguntaram á ele como poderiam satisfazerem seus desejos.
Brahma disse: “Uma pessoa pode facilmente obter todo desfrute disponível em todos os mundos e pode satisfazer todos os desejos quando ela conhece a alma. Esta alma é livre de pecados, velhice, morte, lamentação, ira, e desejo, e ela é satya-sankalpa, isto é, todo seu esforço e resolução é completamente veraz e absoluto.”
Para realizar a alma, Indra e Virochan residiram com Brahma e praticaram celibato por trinta e dois anos. Eles então oraram para Brahma para lhes dizer a verdade sobre a alma.
Brahma disse: “Esta pessoa (o eu) que você está vendo agora com seus olhos é a alma, e ela é destemida e imortal.”
Eles então, pediram mais detalhes: “A alma é esta pessoa (o eu) que estamos vendo na água ou no espelho?” Brahma então disse para eles olharem para potes separados de terra cheios de água. Aí, ele perguntou de novo: “O que você vê?”. Olhando seus reflexos na água, eles disseram: “Ó Brahma, nós vemos toda a alma como ela realmente é, dos cabelos á cabeça e descendo até os tornozelos.”
Brahma pediu então que eles cortassem as unhas e os cabelos e se decorassem com ornamentos. Ele pediu á eles que olhassem de novo para dentro dos potes de barro. “O que vocês estão vendo agora?”.
“Estamos vendo estas duas pessoas nos reflexos, elas estão bem limpas e decoradas com lindas roupas e ornamentos, igual á que nós temos; elas se parecem perfeitamente conosco.
Brahma disse: “Isto é a alma e ela é destemida e imortal”.
Ouvindo isto, Indra e Virochan partiram muito satisfeitos internamente.
Chegando na residência dos demônios, Virochan, que agora havia entendido sobre o corpo, a alma e o objeto de adoração e serviço e declarou; “Ó demônios, aquele que adora seu corpo como sendo a alma atinge a perfeição neste mundo e nos mais elevados também. Todos seus desejos são satisfeitos e ele alcança muito prazer.
Mas Indra voltou á sua casa bem pensativo sobre o assunto: “Este corpo toma nascimento, morte, sofre transformações, está sujeito á doenças e tantas outra coisas. Como, então, pode o corpo ser a alma imortal, que é não nascida, não perecível, não tem perturbações ou medo?”.
No meio do caminho, Indra decidiu retornar á morada de Brahma e questionou sobre sua dúvida. Brahma então fez Indra viver outros trinta e dois anos em celibato e então disse á ele: “A pessoa que é compreendida ser o “eu” em um sonho é a alma, e ela é destemida e imortal”
Ouvindo isto, Indra deixou o lugar com o coração pacífico; mas após sua jornada de volta para casa ele de novo começou á refletir: “O corpo de uma pessoa pode estar doente, mesmo assim, no sonho, esta pessoa pode permanecer livre de doenças. Mas vamos supor que em um sonho, a pessoa identificada com si própria é atacada ou morta. Ele ainda sente medo e chora, e após acordar este “eu” continua existindo. Então, a forma vista no sonho não pode ser de fato a alma.”
Pensando assim, Indra retornou até o Senhor Brahma. Após praticar celibato por mais trinta e dois anos, Brahma o instruiu assim: “A alma cai no estado de sono profundo onde não há visão ou até mesmo a experiência do sonho”.
Mas assim como as outras vezes, Indra ficou pensando sobre as palavras de Brahma no seu caminho de volta.
“Ele pensou, na condição de sono profundo não o entendimento de quem a pessoa é, e também ninguém é percebido. Esta condição é então um tipo de aniquilação.”
Pensando assim, Indra retornou até Brahma de novo. Desta vez após praticar cinco anos de celibato, Brahma disse á ele : “Indra, o corpo físico, o qual está naturalmente sujeito á morte, é apenas a residência da alma. A alma é apegada ao corpo, assim como um cavalo ou touro permanece preso ao carro. Na realidade, é a pessoa quem tem desejos como “eu devo olhar” quem é a alma. Para isto, existem os sentidos, como os olhos. Ele que deseja “eu devo falar” na verdade é a alma, e para atuar com a fala existe a língua. Ele que deseja pensar é a alma, e a mente pensa para ele. Analisando neste contexto, fica claro que a alma possui três residências assim como o amendoim possui três elementos( a casca, a pele e o próprio amendoin)
As residências são:
1- O corpo grosseiro composto de cinco elementos grosseiros (ar, éter, água, fogo e terra)
2- O corpo sutil (mente, inteligência e falso ego), quem possui uma sombra de consciência
3- O corpo puro da alma, que é composto de três potências espirituais( sac-cit-ananda0 a existência pura e eterna, todo o conhecimento e completo êxtase espiritual.
Cada um desses corpos tem seu próprio dharma separados, uma função ocupacional.
O corpo grosseiro e o corpo sutil são ambos impermanentes. Então, suas respectivas funções são também temporárias. A alma, por outro lado, é eterna e sem fim. Este conceito é estabelecido por textos sagrados com os Vedas, Puranas, Upanisads (eterno conhecimento transcendental posto em textos sagrados, na India, há aproximadamente cinco mil anos atrás) Assim, a função da alma é sem dúvida uma função eterna, ou uma religião eterna. Isto é chamado também de Dharma Védico ou Bhagavat-dharma.
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