Da obra Caitanya-Bhagavata,
Adi-khanda, Capítulo 2
Glórias e mais glórias ao beatífico Gaurasundara Mahaprabhu, o filho
de Jagannatha Misra, o Senhor Supremo de tudo e todos! Glórias e mais
glórias ao Senhor Caitanya, a vida e alma de Nityananda Prabhu e de
Sri Gadadhara Pandita! Todas as glórias, todas as glórias a Ele que é
o abrigo de Sri Advaitacarya! Glórias e mais glórias ao Senhor Sri
Gauranga e a Seus associados! Obtém-se amor devocional pelo Supremo
simplesmente por se ouvirem estes tópicos transcendentais acerca do
Senhor Caitanya. Novamente ofereço minhas reverências aos pés de lótus
do Senhor e aos pés de lótus de todos os Seus associados; assim, os
passatempos do Senhor poderão aparecer em minha língua. Glórias e mais
glórias ao Senhor Gauracandra, o oceano de misericórdia!
Glórias e mais glórias ao Senhor Nityananda, o serviço devocional
personificado! Eles são irmãos e são devotos do Senhor. Suas
verdadeiras identidades, contudo, são desconhecidas. Unicamente pela
misericórdia dEles nos é revelada a verdadeira identidade de ambos. O
Senhor Brahma foi iluminado acerca da Verdade Absoluta pela
misericórdia do Senhor Krsna. O Srimad-Bhagavatam (2.4.22) e todas as
escrituras védicas descrevem isso. “Que o Senhor que é o começo da
criação e que ampliou o poderoso conhecimento de Brahma de dentro de
seu coração e o inspirou com sabedoria plena acerca da criação e
acerca de Sua própria identidade, e que parece ter sido gerado a
partir da boca de Brahma, fique satisfeito”. Quando, no começo, o
Senhor Brahma nasceu do lótus do umbigo do Senhor, ele não tinha
capacidade de ver algo. Todavia, quando ele se rendeu completamente ao
Senhor Supremo; por Sua misericórdia sem causa, Krsna apareceu perante
Brahma. Essa mesma misericórdia iluminou o Senhor Brahma com
conhecimento absoluto do Senhor Supremo, a origem de todas as
encarnações. Como uma conseqüência natural, da boca de Brahma
começaram a fluir canções glorificatórias.
A vinda do Senhor Krsnacandra a este mundo material é muito difícil de
se compreender. Sem primeiramente receber a misericórdia do Senhor,
quem tem poder para entender tal nascimento? Seus passatempos
supramundanos são inconcebíveis e inacessíveis. O Senhor Brahma
declara no Srimad-Bhagavatam (10.14.21): “Ó Senhor do Universo, ó
Pessoa Suprema, ó Alma Suprema, ó Senhor dos místicos, como Você é
maravilhoso! Quem dentro dos três mundos pode saber quando, onde, por
qual motivo e como Você expande Sua potência espiritual interna,
Yogamaya, e executa Seus passatempos transcendentais?”. Quem pode
apontar a razão ontológica para o advento do Senhor neste mundo? Só
posso ter por fonte o Bhagavad-gita e o Srimad-Bhagavatam para
encontrar a razão de Seu aparecimento. “Sempre e onde quer que haja
declínio na prática religiosa, Ó descendente de Bharata, e uma
ascensão predominante de irreligião – aí, então, Eu próprio descendo.
Para libertar os piedosos e aniquilar os malfeitores, bem como para
restabelecer os princípios da religião, Eu mesmo venho, milênio após
milênio”. (Bhagavad-gita 4.7-8) À proporção que as práticas religiosas
enfraquecem, a irreligião ganha espaço. Quando isto ocorre, o Senhor
Brahma e os demais semideuses se aproximam do Senhor e oram pela
proteção dos devotos e pela aniquilação dos demônios.
A fim de restabelecer o processo religioso da era (yuga-dharma), o
Senhor Supremo, acompanhado de Suas expansões e associados, descendeu
à Terra. A religião de Kali-yuga é o canto congregacional do santo
nome do Senhor (Hari-sankirtana) e para estabelecer de forma
definitiva esse processo, o Senhor apareceu como o filho de Mãe Saci.
Confirma-se no Srimad-Bhagavatam (11.5.31-32) que a Suprema Verdade
Absoluta, Sri Caitanya Mahaprabhu, nasce unicamente com o propósito de
propagar o canto congregacional do santo nome de Krsna: “Os devotos
sempre oferecem orações à Suprema Personalidade de Deus através de
vários mantras e observam os princípios reguladores dos livros védicos
suplementares. Mas, na era de Kali, aqueles que forem inteligentes,
executarão especificamente o canto congregacional do maha-mantra Hare
Krsna, adorando a Suprema Personalidade de Deus, que aparece nesta era
como um devoto sempre a cantar as glórias de Krsna”. O Senhor
Caitanya-Narayana revelou que o Hari-sankirtana, o canto
congregacional do santo nome do Senhor Hari, é a essência de toda a
religião em Kali-yuga. Para o estabelecimento desse Movimento de
Sankirtana, acompanhado de Seus associados, Ele aparece em Kali-yuga.
Cumprindo o desejo do Senhor, Seus eternos associados aparecem antes
dEle, aceitando nascimento no mundo dos seres humanos. Ananta, Siva,
Brahma e outros grandes sábios nasceram como associados pessoais do
Senhor Supremo. Todos eles nasceram como grandes devotos Bhagavatas do
Senhor. O Senhor Caitanya, sendo o próprio Krsna, era plenamente
ciente de suas identidades. A maior parte deles nasceu em Navadvipa,
alguns nasceram em Cati-grama, alguns em Radha-desa, e ainda outros na
Orissa. Embora tenham descendido à Terra em diferentes pontos, todos
se encontraram em Navadvipa. A maioria desses grandes vaisnavas nasceu
em Navadvipa, mas alguns dos vaisnavas mais queridos do Senhor
nasceram em outras localidades. Srivasa Pandita, Sri Rama Pandita e
Sri Candrasekharadeva, por exemplo, que são personalidades adoradas
nos três mundos, e Sri Murari Gupta, um médico perito capaz de curar a
doença do envolvimento material, desceram a este mundo em Srihatta
(Radha-desa). Os grandiosos vaisnavas Pundarika Vidyanidhi, Caitanya
Vallabha e Vasudeva Datta apareceram em Cati-grama. Haridasa apareceu
neste mundo em Budhana.
Em Radha-desa, há uma vila de nome Ekacakra. Nessa vila, a Suprema
Personalidade de Deus, o Senhor Nityananda, descendeu a este mundo.
Embora Ele seja o pai de todos, o Senhor Nityananda, para exibir
misericórdia para com Hadai Pandita, um brahmana e devoto puro, atuou
como seu filho. Dessa maneira, o Senhor Nityananda Rama, que é um
oceano de benevolência, o outorgador da devoção ao Supremo e o abrigo
dos devotos, apareceu no distrito de Radha-desa. Expressando sua
profunda felicidade pelo aparecimento do Senhor Nityananda, os
semideuses clamaram “Jaya! Jaya!” e derramaram flores no cenário
auspicioso. Tudo isso aconteceu de forma invisível aos olhos mundanos.
Do nascimento do Senhor Nityananda em diante, Radha-desa ficava a cada
dia mais próspera e auspiciosa. Paramananda Puri, que foi associado
íntimo do Senhor Caitanya em Jagannatha Puri, apareceu em Trihut.
As localidades à beira do Ganges são todas puras e sagradas. Por que,
então, esses vaisnavas nasceram em terras ímpias? Se o próprio Senhor
Caitanya descendeu a este mundo à beira do Ganges; por que, então,
Seus associados nasceram em outros locais distantes? Em suas viagens,
os Pandavas nunca iam a locais onde o Ganges ou os santos nomes do
Senhor Hari não estivessem presentes. A resposta para isto é que,
porque o Senhor Krsna Caitanya ama todas as entidades vivas assim como
um pai ama todos os seus filhos, Ele ordenou a tais grandes devotos
aparecerem nesses locais diversificados. O aparecimento do Senhor teve
o único propósito de remir o mundo material. A fim de cumprir esse
propósito, o Senhor arranjou para que Seus devotos puros nascessem em
terras ímpias e em famílias igualmente impiedosas. Independente da
região ou família em que o vaisnava puro apareça, com sua grande
potência, ele libera todos em uma área de mais de um milhão e duzentos
mil quilômetros. Onde quer que os vaisnavas manifestem suas glórias se
torna um local puro e sagrado, um local de peregrinação. Assim,
criando novos locais de peregrinação, o Senhor Caitanya-Narayana
providenciou que Seus devotos descessem ao mundo material nesses
diferentes locais. Embora tenham nascido em localidades variadas, eles
se encontraram, como que por acaso, em Navadvipa.
A terra natal do Senhor Caitanya foi Navadvipa, daí ser Navadvipa o
local de encontro de todos os devotos. As glórias de Navadvipa não
podem ser comparadas às de nenhuma outra parte do mundo. Ciente de que
o Senhor apareceria ali, o demiurgo Brahma dotou Navadvipa com tudo o
que há de auspicioso. Quem é capaz de descrever as opulências de
Navadvipa? Em um único de seus balneários, centenas e milhares iam se
banhar no Ganges. Pela graça da deusa Sarasvati, os residentes de
Navadvipa, de todas as diferentes idades, eram eruditos expoentes das
escrituras. Toda a população era muito orgulhosa de seu conhecimento
material; mesmo jovens garotos debatiam apaixonadamente com os anciãos
eruditos. Pessoas vinham de diferentes províncias para estudar em
Navadvipa, porque ali poderiam desenvolver gosto pelo estudo
sistemático. O número de estudantes de Navadvipa era incalculável, e o
número exato de professores também era desconhecido.
Agraciados pelo olhar favorável de Laksmidevi, os residentes de
Navadvipa estavam contentes, mas, estando interessados em degustar
apenas sabores materiais, desperdiçavam a duração de suas vidas. À
medida que o orgulho e a mentalidade materialista cresciam entre eles,
o gosto pelo serviço devocional ao Senhor Supremo diminuía; e, com a
entrada de Kali-yuga, isso se agravou consideravelmente. A única
prática religiosa conhecida era a observação de vigílias invocando
semideuses e semideusas – especialmente Mangala Candi Durga – para a
obtenção de efêmeros benefícios materiais. Alguns arrogantemente
adoravam Manasa, a deusa das cobras, e outros desperdiçavam grandes
riquezas oferecendo-as a deidades que não passavam de bonecos de
deuses e deusas. Eles esbanjavam grandes somas de riquezas no
casamento de seus filhos e filhas, e, dessa maneira, desperdiçavam a
duração de vida de que dispunham neste mundo.
Mesmo os supostos sacerdotes de elite – Bhattacaryas, Cakravartis e
Misras – desconheciam a razão das escrituras. Embora ensinassem as
escrituras, suas atividades não eram condizentes com as injunções das
mesmas. Mesmo enquanto vivos, a forca de Yamaraja já repousava no
pescoço tanto dos professores quanto de seus alunos. Ninguém discutia
Krsna-kirtana, a verdadeira religião de Kali-yuga do cantar dos nomes
e glórias do Senhor Hari. Não podendo apontar falhas em outros, todos
preferiam ficar em silêncio. Sequer um único nome de Deus escaparia
das bocas daqueles pretensos renunciantes e eremitas. Aqueles
considerados os mais piedosos da sociedade podiam ser ouvidos
repetindo o nome de “Govinda” ou “Pundarikaksa” uma vez ao dia
enquanto se banhavam. Perspectivas devocionais estavam invariavelmente
ausentes nas explicações de literaturas transcendentais como o
Bhagavad-gita e o Srimad-Bhagavatam.
Testemunhando o mundo inteiro confuso pela energia ilusória do Senhor
Visnu, os devotos sentiam profunda tristeza. Eles se perguntavam:
“Como todas essas almas serão liberadas? Elas estão hipnotizadas pelo
mito da gratificação dos sentidos. Embora sejam solicitadas a cantar
os santos nomes do Senhor Krsna, elas se recusam e seguem com suas
intermináveis discussões acerca de conhecimentos ordinários. Como
todas essas almas serão liberadas?”. O pequeno número de devotos
vaisnavas continuava com suas atividades devocionais. Eles adoravam o
Senhor Krsna, banhavam-se no Ganges e discutiam tópicos conscientes de
Krsna. Apiedados da condição em que a humanidade se encontrava, os
vaisnavas oravam: “Ó Senhor Krsnacandra, por favor, derrame sem demora
Sua misericórdia sobre todos”.
O líder dos vaisnavas de Navadvipa se chamava Advaitacarya. Ele era a
personalidade mais gloriosa de todo o mundo. Ele era o melhor
exponente de jnana (conhecimento), bhakti (serviço devocional) e
vairagya (renúncia). Suas explicações sobre Krsna-bhakti (devoção a
Krsna) eram como aquelas dadas pelo Senhor Siva em pessoa. Quando
discutia qualquer passagem de qualquer escritura, Sua interpretação
conclusiva para todos os versos era: “Devoção aos pés de lótus do
Senhor Krsna é o melhor de todos os caminhos espirituais”. Ele
constantemente adorava o Senhor Krsna com grande felicidade e devoção
oferecendo-Lhe Tulasi-manjaris e água do Ganges. Impelido por Seu amor
ao Senhor, Ele cantava alto os nomes de Krsna. Os nomes clamados por
Ele penetraram as coberturas do mundo material, transpuseram a morada
do Senhor Brahma e entraram no reino de Vaikuntha. Ouvindo a
manifestação sonora do amor de Advaitacarya, o Senhor Krsna, que é
conquistado pela devoção, apareceu pessoalmente diante de Seu devoto.
Advaita era o melhor de todos os vaisnavas. Ele era o mais glorioso
seguidor de bhakti-yoga de todo o universo.
Advaitacarya Se entristecia profundamente ao contemplar uma pessoa
destituída de devoção ao Senhor. Todos estavam loucos, buscando a
qualquer custo o prazer sensorial – ninguém ansiava por adorar ou
servir o Senhor Krsna. Alguns adoravam a deusa Durga com muitas
oferendas, enquanto outros adoravam yaksas com oferendas de carne
humana e vinho. Eles se imergiam nos incessantes e tumultuosos cantar
e dançar mundanos, tornando-se surdos ao nectáreo chamado dos santos
nomes do Senhor Krsna. Os semideuses não ficam satisfeitos com a
adoração que não tem por fim último a satisfação do Senhor Krsna.
Advaitacarya em particular, vendo que as pessoas não estavam
inclinadas a adorar Krsna, sentia grande pesar no âmago de Seu
coração. Advaitacarya Prabhu era por natureza muito compassivo. No
íntimo de Seu coração, Ele tentava elaborar um plano para liberar as
almas condicionadas. Ele pensou: “Se Meu Senhor descender a este
mundo, então todos serão liberados. Só posso ostentar ser uma
encarnação do Senhor Maha-Visnu se Eu puder convencer o amado de
Vaikuntha, Krsna, a aparecer neste mundo. Com esse feito, ficarei
famoso como ‘Advaitasimha’, o leão irrivalizável. Quando Eu
pessoalmente trouxer o Senhor de Vaikuntha para este mundo, liberando
desta maneira todas as almas condicionadas, Eu cantarei e dançarei em
grande satisfação”. Tecendo repetidamente tais considerações, Ele
adorava constantemente os pés de lótus de Krsna com determinação
indivisa. O Senhor Caitanya desceu a este mundo devido ao apelo
sincero de Advaitacarya Prabhu. O próprio Senhor repetia esse fato com
grande freqüência.
Navadvipa, o local do nascimento do Senhor Caitanya.
Srivasa Pandita e seus três irmãos, Srirama, Sripati e Srinidhi, em
cuja casa o Senhor Caitanya desfrutou diversos passatempos, residiam
em Navadvipa. Os quatro irmãos sempre cantavam os santos nomes do
Senhor Krsna. Três vezes ao dia, eles se banhavam no Ganges e adoravam
Sri Krsna. Sob a ordem do Senhor Supremo, muitas almas liberadas
nasceram neste mundo; com suas identidades verdadeiras encobertas,
residiam no distrito de Nadiya. Sri Candrasekhara, Jagadisa,
Gopinatha, Sriman, Murari, Sri Garuda e Gangadasa desceram antes do
Senhor. Menciono apenas os nomes de algumas grandes almas que conheci
pessoalmente. A menção de todos os associados do Senhor tornaria este
livro muito volumoso. Todas essas almas nobres e generosas executavam
seus deveres espirituais com extremo cuidado e atenção. De fato, eles
não conheciam nada além do serviço devocional ao Senhor Krsna. Eles
consideravam uns aos outros como amigos, e não sabiam serem almas
liberadas advindas do mundo espiritual.
Quando viam não haver devoção ao Senhor Visnu em nenhuma parte do
mundo, seus corações pareciam queimar. Não sendo capazes de encontrar
ninguém com gosto pelo néctar dos passatempos do Senhor Krsna, eles
glorificavam o Senhor apenas entre si. Eles se encontravam na casa de
Advaita e conversavam sobre Krsna por uma ou duas horas. Com isso,
todo o sofrimento se dissipava. Nada podiam fazer os devotos senão
contemplar com lágrimas nos olhos todos a queimar nas labaredas do
materialismo. Com a liderança de Sri Advaitacarya, os devotos
empreenderam uma iniciativa para tentar fazer com que as pessoas se
tornassem conscientes de Deus, mas nem uma alma sequer entendeu a
mensagem deles. Acometido por uma grande aflição ante o sofrimento de
tantos, Advaita passou a jejuar. Os vaisnavas respiravam com
dificuldade vendo o estado de seu líder.
“Por que cantar e dançar para Krsna? Qual o significado do canto
congregacional dos santos nomes do Senhor? O que é ser um vaisnava?”.
Os materialistas grosseiros não podiam compreender nada disso, pois
tudo o que queriam na vida era dinheiro e filhos. Quando se reuniam,
tais ateístas zombavam e riam dos vaisnavas. Ao cair da tarde, Srivasa
Thakura e seus três irmãos cantavam os santos nomes do Senhor em sua
casa com grande empolgação. Ouvindo o cantar de Srivasa Thakura, seus
vizinhos declaravam entre si: “Esse brahmana louco irá levar toda a
nossa vila à ruína! O tirano rei muçulmano ficará assustadoramente
indisposto com o povo de Nadiya se ouvir esse cantar”. Alguns vizinhos
invejosos propunham: “Esse brahmana deveria ser expulso de nossa vila.
Devíamos fazer sua casa em pedaços e jogar cada um desses pedaços na
correnteza do rio. Somente com a expulsão de Srivasa nossa vila poderá
permanecer em paz. De outro modo, os soldados muçulmanos irão ocupar
nossa vila e nos torturar”.
Quando os impolutos vaisnavas ouviam tais ameaças dos ateístas, eles
apenas choravam e levavam seus pesares ao Senhor Krsna por meio de
suas orações. Tomando conhecimento dessas ofensas, Advaita foi tomado
de ira. Tendo apenas as quatro direções como vestes, Ele disse aos
vaisnavas: “Srinivasa, Gangadasa, Suklambara, ouçam-Me, por favor.
Farei com que o Senhor Krsna apareça diante dos olhos de todos! O
Senhor Krsna virá aqui e libertará todas as almas condicionadas.
Juntamente com todos vocês vaisnavas, Ele ensinará Krsna-bhakti, a
prática do serviço devocional, a todos os ateístas. Se Eu falhar no
cumprimento de Minha promessa, manifestarei Minha forma de quatro
braços que traz a cakra em riste e separarei a cabeça de todos os
ateístas do restante de seus corpos. Só assim eles aceitarão que o
Senhor Krsna é Meu Senhor e que Eu sou o Seu servo”. Sri Advaitacarya
perdurou neste discurso; finalizando-o, colocou-Se a adorar
determinadamente os pés de lótus do Senhor Krsna. Todos os devotos
adoraram os pés de lótus do Senhor Krsna com grande determinação,
enquanto lágrimas escorriam de seus olhos incessantemente.
Enquanto os devotos andavam pela cidade de Navadvépa cumprindo seus
deveres, não ouviam em parte alguma discussões sobre o Senhor Supremo
ou sobre devoção. Perturbados com tudo aquilo, os devotos desejavam
abandonar seus corpos. Eles suspiravam o nome de Krsna enquanto
respiravam pesadamente. A dor deles ante os frívolos empreendimentos
de uma sociedade materialista era tão grande que não tinham apetite.
Se acaso colocassem algo na boca, não tinham ânimo para mastigar. Em
conseqüência à rejeição de toda a felicidade material por parte dos
devotos, o Senhor Supremo começou a preparar Sua vinda ao mundo
material.
Sob a ordem do Senhor Supremo, Nityananda Prabhu, a origem de Ananta
Sesa, desceu antes dEle. O aparecimento do Senhor Nityananda se deu no
ventre de Padmavati, na terra de Radha-desa, em Ekacakra, em um
auspicioso sukla-trayodasi, décimo terceiro dia da lua crescente, no
mês de Magha (Janeiro e Fevereiro). Embora Ele seja o Pai Supremo
original de todos, Nityananda permitiu a Sri Hadai Pandita, o mais
puro e elevado dos brahmana, fazer o papel de Seu pai. Deste modo, o
Senhor Balarama, que é um oceano de misericórdia e o outorgador do
serviço devocional, descendeu novamente a este mundo; desta vez,
atendendo pelo nome de Nityananda Prabhu. Os cidadãos dos planetas
celestiais celebraram a ocasião derramando pétalas de flores e
clamando “Jaya! Jaya!”. Tudo isto de forma invisível aos olhos das
pessoas ordinárias. O aparecimento do Senhor Nityananda na terra de
Radha-desa fez com que a boa fortuna daquele distrito crescesse mais e
mais em todos os aspectos. Aceitando as vestes de avadhuta, o Senhor
Nityananda vagou por toda a parte liberando as almas caídas. Foi assim
que o Senhor Ananta adveio a este mundo. Agora, ouçam, por favor, o
advento do Senhor Krsna.
Em Navadvipa vivia uma grande personalidade transcendental chamada Sri
Jagannatha Misra. Ele era tal qual Vasudeva Maharaja: sempre ocupado
em atividades transcendentais. Era magnânimo e possuía no mais alto
grau todas as qualidades bramânicas. Suas virtudes eram sem paralelo.
Sri Jagannatha Misra era tal qual Kasyapa, Dasaratha, Vasudeva e Nanda
Maharaja. Sua dedicada e casta esposa, de nome Srimati Sacidevi, era a
personificação da devoção ao Senhor Supremo, a mãe de todo o universo.
De nove filhos, oito faleceram, e apenas o afortunadíssimo filho de
nome Visvarupa ficou sob seus cuidados, Ele que era tão belo e
encantador quanto o Cupido e a fonte de prazer de Seus parentes.
Visvarupa foi renunciado desde Seu nascimento. Quando ainda era apenas
uma criança, todas as escrituras sagradas espontaneamente se revelaram
em Seu íntimo.
A irreligiosidade manifesta no começo de Kali-yuga era um indicativo
do que o futuro reservava: não haveria serviço devocional,
Visnu-bhakti, em nenhum lugar do mundo material. Em conseqüência do
desaparecimento da religião verdadeira e do sofrimento de Seus
devotos, o Senhor Supremo advém a este mundo. A Suprema Personalidade
de Deus, o Senhor Caitanya Mahaprabhu, entrou então nos corpos de
Sacidevi e Jagannatha Misra. Nesse momento, as interjeições “Jaya!
Jaya!” se manifestaram das bocas do Senhor Ananta. Sri Jagannatha
Misra e Mãe Saci ouviram o clamor de Anantadeva como se estivessem em
um sonho. Os corpos de ambos exibiam grande resplandecência, embora
olhos ordinários não pudessem ver. Siva, Brahma e os demais
semideuses, entendendo que a Suprema Personalidade de Deus estava
prestes a aparecer, vieram até a Terra para oferecer orações. Todos
esses passatempos do Senhor estão registrados, embora de maneira
escondida, nos versos dos Vedas. Quanto a isto, não há dúvidas.
Agora, por favor, ouçam a oração que o Senhor Brahma e os demais
semideuses ofereceram com grande devoção. Por se ouvir essa oração
confidencial, desenvolve-se forte apego ao Senhor Krsna. Os semideuses
oraram: “Repetidas glórias ao Senhor Mahaprabhu, o mantenedor de
todos! Repetidas glórias ao Senhor que descende a este mundo material
para inaugurar o Movimento de Sankirtana! Repetidas glórias ao Senhor
Caitanya, o protetor dos Vedas, da religião, dos devotos santos e dos
brahmanas piedosos! Repetidas glórias ao Senhor que é o destruidor dos
não-devotos e a morte personificada para os ateístas. Repetidas
glórias ao Senhor Caitanya, cuja forma transcendental é absoluta,
eterna e plena de bem-aventurança. Repetidas glórias ao Senhor dos
senhores, cujos desejos não conhecem obstrução”.
“O Senhor permanece imanifesto em milhões e milhões de universos”,
continuaram os semideuses sua oração, “mas Se manifesta pessoalmente
no ventre de Sacidevi. Quem é capaz de compreender Seus desejos? A
criação, a manutenção e a aniquilação dos universos não passam de um
aspecto de Seus maravilhosos passatempos. Se Você assim desejasse,
todos os universos seriam imediatamente destruídos. Assim, não seria
Você capaz de matar Ravana e Kamsa simplesmente pronunciando uma única
palavra? Apesar de tal habilidade, Você apareceu nas casas do rei
Dasaratha e de Sri Vasudeva para matar esses dois demônios. Ó Senhor,
quem seria capaz de desvendar o mistério por detrás de Suas
atividades? Apenas Você conhece Seu coração. Se este fosse Seu desejo,
um único de Seus servos poderia liberar as almas de todos os
inumeráveis universos. Mesmo assim, Você vem pessoalmente a este
mundo, ensina os princípios religiosos e torna a todos venturosos”.
“Em Satya-yuga”, prosseguiram ainda, “Você apareceu em uma compleição
clara e ensinou o caminho da austeridade e da meditação executando
Você mesmo austeridades. Portando uma danda e um kamandalu, com Seus
cabelos descuidados e trajando pele de antílope, Você desceu a este
mundo como um brahmacari com o intuito de estabelecer os princípios da
religião. Em Treta-yuga, manifestando Sua bela forma como o
avermelhado Yajna-purusa, Você ensinou a prática religiosa dos
sacrifícios. Com a sruk e a srava em mãos, Você pessoalmente conduziu
os rituais sacrificatórios. Em Dvapara-yuga, Você apareceu com a bela
compleição enegrecida de uma nuvem de monção e estabeleceu a adoração
à Deidade em toda residência. Descendendo a este mundo, Você Se tornou
um grande rei. Trajando veste amarelas e carregando em Seu corpo
transcendental a marca da Srivatsa e outros sinais exclusivos, Você
executou opulenta adoração à Deidade. Em Kali-yuga, Você apareceu como
um brahmana erudito em uma compleição de cor amarela e propagou a
prática religiosa mais confidencial do canto congregacional do santo
nome do Senhor. Você aceita ilimitados nascimentos em ilimitadas
formas supranaturais. Quem poderia contar cada um de Seus nascimentos
e formas?”.
“Manifestando a forma do peixe, Matsya, Você desfruta de passatempos
nas águas da devastação. Manifestando a forma da tartaruga, Kurma,
Você Se torna o local de repouso de todas as entidades vivas. Como
Hayagriva, Você resgatou os Vedas e matou os demônios Madhu e
Kaitabha. Como Sri Varaha, Você resgatou a Terra; e como o Senhor
Nrsimhadeva, esfacelou o demônio Hiranyakasipu. Como a encarnação anã
Vamana, Você excedeu o rei Bali em astúcia; e, como Parasurama, Você
tornou a Terra um lugar inabitado por ksatriyas. Como o Senhor
Ramacandra, Você matou Ravana; e, como o Senhor Balarama, Você
desfrutou de incontáveis brincadeiras. Como o Senhor Buddha, Você
pregou a religião da compaixão e da não-violência; e, como o Senhor
Kalki, Você destruiu os degradados mlecchas, a classe de homens que
não segue as injunções védicas. Como o Senhor Dhanvantari, Você
distribuiu o néctar da imortalidade; e, como o Senhor Hamsa, Você
explicou a Verdade Absoluta para o Senhor Brahma e outros. Como Narada
Muni, Você porta a vina e canta muito docemente; e, como Srila
Vyasadeva, Você explica a verdade acerca de Si mesmo. Manifestando
Seus melhores passatempos e Sua beleza e inteligência ímpares, Você
apareceu em Sua forma original, a forma de Krsna, e desfrutou de
passatempos em Gokula”.
“Agora, neste presente nascimento, Você Se apresentará na forma de um
devoto puro e incondicional do Senhor. Com todo o Seu poder, Você
pregará o movimento de Sankirtana, o movimento do cantar do santo nome
do Senhor Krsna. O néctar do canto congregacional do santo nome irá
imergir todo o universo em bem-aventurança. Em toda e cada casa,
prema-bhakti se tornará manifesta. Como poderíamos descrever o êxtase
que tomará os três mundos quando o Senhor começar a dançar com Seus
servos e devotos? Por sempre meditarem em Seus pés de lótus, Seus
devotos removem todas as doenças e inauspiciosidades deste mundo. As
solas de Seus pés dispersam toda a desventura, enquanto que Seus
olhares purificam todas as dez direções. Ó Senhor Caitanya, são tão
gloriosos Seus servos que, quando dançam belamente com seus braços
erguidos, removem toda a perturbação nos planetas celestiais. Ó Senhor
Caitanya, trazendo conSigo Seus devotos, Você vem a este mundo para
pregar através de Seu exemplo o canto congregacional e distribuir
prema, amor puro por Deus”.
“Ó Senhor, quem teria tamanha habilidade com as palavras para
descrever Sua magnificência em presentear a todos com o conhecimento
mais confidencial e secreto dos Vedas? Escondendo o serviço
devocional, Você costumava conceder a liberação aos praticantes
espirituais. Desejamos ardentemente que o Senhor nos presenteie agora
com o sublime amor ao Senhor. Você, o mestre de toda a criação,
distribui o maior dos tesouros a todos sem exigir nada em troca. Você
Se comporta dessa maneira magnânima porque é todo-misericordioso. O
cantar de Seu santo nome traz os resultados da execução de todos os
yajnas; e, para distribuir tal cantar, Você está vindo agora a este
mundo, aparecendo em Navadvipa. Ó Senhor, conceda-nos Sua benevolência
de forma que sejamos afortunados o suficiente para ver os maravilhosos
passatempos que Você desfrutará em Navadvipa. Ó Senhor, daqui a alguns
dias, Você satisfará o acalentado desejo de Gangadevi desfrutando de
muitos passatempos em suas águas. Sua primorosa forma transcendental,
que os místicos e yogis vêem mentalmente em suas meditações, tornou-se
manifesta em Navadvipa. Oferecemos nossas respeitosas reverências a
Navadvipa-dhama e à casa de Sacidevi e Jagannatha Misra, onde Você
escolheu realizar Seu aparecimento divino”. Desse modo, Brahma e
outros semideuses, mantendo-se invisíveis, ofereciam diariamente
orações seletas ao Senhor Supremo.
O Proprietário Supremo de toda a criação permaneceu no ventre de
Sacidevi, e, com a ascensão da lua cheia do mês de Phalguna (Fevereiro
e Março), Ele tornou-Se manifesto. Toda a auspiciosidade residente em
diferentes partes da manifestação cósmica se apresentou em plenitude
naquela noite de lua cheia. A Suprema Personalidade de Deus descendeu
ao mundo em companhia do processo do canto congregacional do santo
nome. Ele propagaria esse processo de Sankirtana praticando-o Ele
mesmo. Quem é capaz de compreender as estonteantes atividades do
Senhor Supremo? Por Seu desejo, Rahu cobriu a lua naquela noite. Como
arranjado pelo Senhor, todos de Navadvipa, vendo o eclipse lunar,
começaram a cantar bem alto os auspiciosos nomes do Senhor Hari.
Muitos milhões de pessoas correram para o Ganges, onde se banhavam e
clamavam: “Hari-bole! Hari-bole!”. O som tumultuoso do cantar do nome
do Senhor Hari tomou primeiramente toda Nadiya e então penetrou em
todas as camadas do universo material até brahmaloka. O santo nome do
Senhor, não obstante, jamais se contaminou com a atmosfera material.
Vendo aquele acontecimento miraculoso, os devotos pediram em prece:
“Que este eclipse dure para sempre!”. Os devotos experimentaram
profunda felicidade e falaram entre si: “Todos estão tomados de
bem-aventurança. Deve ter sido este o sentimento experimentado pelos
habitantes da Terra quando o Senhor Krsna apareceu neste mundo”.
Enquanto os devotos se dirigiam ao Ganges para se banharem, as quatro
direções eram tomadas pelo Sankirtana dos santos nomes do Senhor Hari.
Mulheres, crianças, idosos; piedosos e ímpios – todos cantavam o santo
nome do Senhor Hari durante o eclipsar da lua. O único som dentro do
universo era o todo-predominante cantar de “Hari! Hari!”. Os
semideuses derramavam flores por toda a parte e proclamavam vitória
enquanto tocavam seus tambores dundubhi. Em meio a essa primorosa
exaltação, o Senhor, a alma do universo, apareceu na Terra como o
filho de Sacidevi. A lua fora jantada por Rahu e o oceano do santo
nome inundara Navadvipa. Bandeiras de vitória tremulavam ao vento
indicando que Kali encontrara-se com a derrota personificada. O Senhor
Supremo havia nascido! Todos os quatorze mundos conversavam sobre o
grande evento. Meramente pela contemplação do Senhor Gauracandra,
todos os moradores de Nadiya se tornaram satisfeitos em plenitude.
Agora, toda a lamentação se dissipara.
Em harmonia com os tambores dundubhi, com o soprar dos búzios, das
flautas e dos chifres de búfalo, eu, Vrndavana dasa, canto as glórias
de Sri Caitanya Mahaprabhu e Nityananda Prabhu. Sua refulgência
incandescente ofusca os raios solares. Meus olhos não suportam Sua
contemplação. Quanto a Seus olhos ligeiramente caídos, não ousarei
tentar nenhuma metáfora. A atmosfera está tomada de boa-venturança:
hoje, as glórias do Senhor Caitanya estão manifestas! Cada vibração
rugiente do nome do Senhor Hari é ouvida em todos os mundos até o
planeta do Senhor Brahma, carregando a excelsa notícia do nascimento
do Senhor. Sua esplêndida compleição se assemelha à cor da pasta de
sândalo. Seu peito é amplo, e nele se dispõe uma dançante guirlanda de
flores silvestres. Seu rosto iridescente é prazeroso, consolador e
refrescante como a lua. Seus longos braços se estendem até Seus
joelhos. Clamores de vitória e glorificações ao Senhor permeavam todas
as direções, e a Terra se sentia especialmente favorecida pelo advento
do Senhor Caitanya. Alguns cantavam com profunda satisfação, enquanto
outros dançavam em êxtase. Mas, para Kali, estar em meio aquela
celebração espiritual era algo desesperador. Os Senhores Caitanya e
Nityananda são as coroas sobre as cabeças dos quatro Vedas. Esses
Senhores são de tamanha magnitude que não rejeitam nem mesmo os
ignorantes e arruinados. Eu, Vrndavana dasa, ofereço a Eles esta
canção.
A lua dourada, o Senhor Caitanya Mahaprabhu, nasceu. Não há nenhum
lugar nas dez direções que não esteja tomado de bem-aventurança. Sua
beleza humildava milhões de cupidos. Ele sorria ao ouvir o cantar de
Seu santo nome. Sua face amável e olhos encantadores, somados aos
sinais auspiciosos trazidos em Seus pés, como a bandeira e o raio, bem
como toda a Sua forma graciosa belamente decorada, estavam ali para
roubar a mente e os sentidos de todos. Toda forma de medo e desânimo
foi imediatamente dissipada pelas Suas glórias e opulências. Eu,
Vrndavana dasa, ofereço esta canção aos Senhores Sri Caitanya e Sri
Nityananda, que são tudo em minha vida.
Os semideuses cantavam estupefatos ante o aparecimento do Senhor
Caitanya. Contemplando o rosto do Senhor, refrescante como a lua,
refrescante o bastante para curar o sofrimento ígneo da vida material,
os semideuses ficavam imensamente satisfeitos. Era uma ocasião festiva
e gloriosa. Ananta, Brahma, Siva e outros semideuses haviam agora
assumido formas humanas. Tendo o eclipse por pretexto, eles também
cantavam o nome do Senhor Hari. É-me impossível descrever a exultação
deles todos. As quatro direções de Nadiya estão definitivamente
tomadas pelo cantar de “Hari! Hari!”. Navadvipa jamais provara fortuna
como essa. Juntos, humanos e semideuses desfrutavam de inúmeros
passatempos. Todos os semideuses, aproveitando não poderem ser vistos
na escuridão do eclipse, foram até o quintal da casa de Mãe Saci e
ofereceram suas reverências ao Senhor Caitanya. Quem seria capaz de
descrever esses insondáveis e confidenciais passatempos do Senhor, tão
difíceis de se compreenderem? Alguns ofereciam preces, alguns
seguravam uma sombrinha e outros O abanavam com camaras, enquanto
outros derramavam flores, cantavam e dançavam. O Senhor Caitanya
apareceu com todos os Seus devotos puros, mas os ateístas e ofensores
jamais entenderão este evento. Eu, Vrndavana dasa, canto as nectáreas
glórias de Sri Krsna Caitanya e Nityananda Prabhu.
O retumbar dos tambores dundubhi se misturava aos hinos, preces e
música dos semideuses, fazendo o ar dançar. “Hoje, sem mais espera,
conheceremos a Suprema Personalidade de Deus, que é um mistério mesmo
para os Vedas”. Os semideuses de Indrapura estavam euforicamente
felizes; tumultuosamente se decorando, eles mal podiam acreditar terem
recebido a benção de nascer em Navadvipa, onde o Senhor lhes daria Sua
venturosa associação. Devido à excessiva felicidade que sentiam pelo
nascimento do príncipe de Navadvipa, o Senhor Caitanya Mahaprabhu,
eles se abraçavam e se beijavam sem nenhum constrangimento. Não havia
mais distinção no critério de amigos ou inimigos. Muito curiosos, os
semideuses chegaram a Navadvipa em meio ao sonoro cantar do nome de
Deus. Provando o gosto nectáreo daquele cantar, o êxtase deles foi
tamanho que quase perderam a consciência; parecendo um tanto
intoxicados, cantavam: “Caitanya! Jaya! Jaya!”. Na casa de Sacidevi,
eles contemplavam a belíssima forma do Senhor Caitanya, que era
gloriosa como o encontro de dez milhões de luas. Usando o eclipse como
justificativa, Ele adveio em Sua forma semelhante à humana e fez com
que todos cantassem bem alto o santo nome do Senhor Hari. O Senhor
descendeu com todas as Suas energias e expansões – os ateístas e
blasfemos jamais poderão entender esse grande acontecimento. Que eu,
Vrndavana dasa, possa cantar as glórias dEles, Sri Sri Caitanya
Nityananda, os quais são minha vida e alma.
Tradução de Bhagavan dasa (DvS) e revisão de Naveen Krishna dasa
(RnS), Prana-vallabha devi dasi (DvS) e Prema-vardhana devi dasi (DvS)
Capítulo do Caitanya-Bhagavata cedido em cortesia pela BBT Brasil.
O Caitanya-Bhagavata, em seu total de cinquenta e cinco capítulos.
Fonte:
http://www.novagokula.com.br/wordpress/?p=8279
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