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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Forma Universal

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A visão de Krishna na forma universal
Lenine

Ó meu senhor de poderosos braços
Todos os mundos e o seus semi-deuses
Vendo teus braços, teus rostos, teus olhos, teus ventres, tuas cochas, teus dentes terríveis
Se apavora…
Eu também…
Quando eu te vejo Vishnu oni presente…
Enchendo o céu com cores radiantes
O teu olhar flameja
E as bocas escancaradas
Fico amedrontado… amedrontado
Não consigo manter a mente firme
Perco todo meu discernimento
Perco todo meu discernimento
Meu discernimento
Deus dos deuses, protetor do mundo
Por favor, dá-me a tua urgencia
Não posso manter meu equilíbrio
Ao ver teu rostos tão resplandecentes
Como se fosse…
As visões da morte com seus dentes terríveis rangendo
Perdi completamente a direção
Perdi completamente a direção




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CAPÍTULO XI: A Forma Universal

Pérolas 57. ARJUNA DESEJA VER A FORMA UNIVERSAL (versos 1 a 4)


1. Arjuna disse: pelo fato de eu ter ouvido as instruções sobre estes assuntos espirituais muito confidenciais que gentilmente me transmitiste, minha ilusão acaba de ser dirimida. 2. Ó pessoa de olhos de lótus, eu ouvi enquanto falavas pormenorizadamente sobre o aparecimento e o desaparecimento de todas as entidades vivas e passei a entender Tuas glórias inexauríveis. 3. Ó maior de todas as personalidades, ó forma suprema, embora estejas diante de mim em Tua posição verdadeira, como Tu mesmo Te descreveste, desejo ver como entraste nesta manifestação cósmica. Quero ver esta Tua forma. 4. Se achas que sou capaz de contemplar Tua forma cósmica, ó meu Senhor, ó mestre de todo o poder místico, então, mostra-me por favor este ilimitado Eu universal.


Aqui, a importância de receber instruções espirituais da fonte certa é mais uma vez assinalada. Arjuna afirma que depois de ouvir no capítulo anterior o Senhor Krishna pessoalmente revelar Suas manifestações esplendorosas, ele se viu livre da ilusão. Isto significa que Arjuna pôde compreender que o Senhor Krishna, o qual estava misericordiosamente na sua frente, não era um simples amigo ou um ser humano comum. Em outras palavras, Arjuna compreendeu que o Senhor Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, a última palavra em conhecimento espiritual. No entanto, apesar de Arjuna ter alcançado esse estágio perfectivo, Arjuna pede para que o Senhor Krishna mostre Sua forma universal para que não só ele, mas todos possam aceitá-lo. Arjuna está inspirado com as instruções e declarações confidenciais feitas pelo Senhor e pede para ver a forma universal do Senhor por que está querendo deixar claro para qualquer pessoa, mesmo no futuro, que o Senhor Krishna não é uma pessoa comum. Arjuna pessoalmente não precisava de nenhuma confirmação da posição transcendental do Senhor. Ele manifestou o desejo de ver a forma universal porque estava prevendo que no futuro surgiriam muitos impostores que se fariam passar por encarnações de Deus. Assim, Arjuna estabeleceu que o critério para se aceitar uma pessoa que alegue ser uma encarnação de Deus é pedir que ele revele sua forma universal. Caso ele não seja capaz de revelá-la, deve-se compreender que se trata de um impostor.
Arjuna também admitia suas limitações como entidade viva e reconhecia que, com seus sentidos materiais, não seria possível ter acesso à grandeza de Krishna. Portanto, com bastante humildade, Arjuna pede a Yogesvara, o Senhor de todo o poder místico, que, se assim Ele concordar, revele Sua forma universal ilimitada.


Pérola 58. ARJUNA OBTÉM VISÃO DIVINA (versos 5 a 14)


5. A Suprema Personalidade de Deus disse: Meu querido Arjuna, ó filho de Pritha, vê então Minhas opulências, constituídas de centenas de milhares de variadas formas divinas e multicoloridas. 6. Ó melhor dos Bharatas, vê aqui as diferentes manifestações dos Adityas, Vasus, Rudras, Asvini-kumaras e todos os outros semideuses. Contempla as muitas coisas maravilhosas que ninguém jamais viu nem ouviu. 7. Ó Arjuna, tudo o que quiseres ver, contempla imediatamente neste Meu corpo! Esta forma universal pode mostrar-te tudo o que agora desejes ver e tudo o que queiras ver no futuro. Todas as coisas – móveis e inertes – estão aqui completamente, num só lugar. 8. Mas não Me podes ver com teus olhos atuais. Por isso, Eu te dou olhos divinos. Observa Minha opulência mística! 9. Sañjaya disse; Ó rei, tendo falado essas palavras, o Supremo Senhor de todo o poder místico, a Personalidade de Deus, mostrou a Arjuna a forma universal. 10-11. Arjuna viu naquela forma universal bocas ilimitadas, olhos ilimitados e maravilhosas visões ilimitadas. A forma estava decorada com muitos ornamentos celestiais e portava em riste muitas armas divinas. Ele usava guirlandas e roupas celestiais, e muitas essências divinas untavam o Seu corpo. Tudo era maravilhoso, brilhante, ilimitado e não parava de expandir-se. 12. Se centenas de milhares de sóis nascessem ao mesmo tempo no céu, talvez seu resplendor pudesse assemelhar-se à refulgência dessa forma universal da Pessoa Suprema. 13. Nesse momento, Arjuna pôde ver na forma universal do Senhor as expansões ilimitadas do Universo situadas em um só lugar, embora tenham sofrido muitos e muitos milhares de divisões. 14. Então, perplexo e atônito, com os pêlos arrepiados, Arjuna inclinou a cabeça para oferecer reverências e, de mãos postas, começou a orar ao Senhor Supremo.


Como um devoto puro do Senhor, Arjuna estava completamente satisfeito em se relacionar diretamente com a forma pessoal do Senhor, o seu amigo Sri Krishna. Ele queria que o Senhor mostrasse Sua forma universal unicamente para o benefício dos não-devotos. Os materialistas não-devotos precisam contemplar uma exibição de opulências por parte do Senhor para, assim, se tornarem atraídos. O devoto, no entanto, já estabeleceu um relacionamento amoroso com o Senhor e não tem necessidade de contemplar a forma universal do Senhor, a qual, por estar relacionada com este mundo, é temporária.
Concordando em satisfazer Seu amigo Arjuna, o Senhor então revelou Sua forma universal que era composta de centenas e milhares de formas divinas variadas, sendo que, ao mesmo tempo, o Senhor dotou Arjuna com uma visão divina para contemplá-la. Vendo esta forma do Senhor, a qual era maravilhosa e sempre se expandia, Arjuna ficou assustado e, espantado, começou a orar ao Senhor.


Pérola 59. ARJUNA DESCREVE SUA VISÃO (versos 15 a 31)


15. Arjuna disse: Meu querido Senhor Krishna, vejo reunidos em Teu corpo todos os semideuses e várias outras entidades vivas. Vejo Brahma sentado na flor de lótus, e vejo o Senhor Shiva e todos os sábios e as serpentes divinas. 16. Ó Senhor do Universo, ó forma universal, vejo em Teu corpo muitos e muitos braços, ventres, bocas e olhos, expandidos por toda a parte, sem limite. Em Ti, não vejo começo, meio nem fim. 17. É difícil ver Tua forma por causa de Tua refulgência deslumbrante e onidirecional como o fogo ardente ou o imensurável resplendor do sol. Entretanto, com toda aparte vejo esta forma reluzente, adornada com várias coroas, maças e discos. 18. És o objetivo primordial supremo, o lugar definitivo que serve de repouso para todo o Universo. És inesgotável e o mais antigo. És o mantenedor da religião eterna, a Personalidade de Deus. Esta é a minha opinião. 19. Não tens origem, meio nem fim. Tua glória é ilimitada. Tens inúmeros braços, e o Sol e a Lua são Teus olhos. Vejo o fogo ardente saindo de Tua boca, e queimas todo este Universo com o Teu próprio resplendor. 20. Embora sejas um, Te expandes por todo o céu, planetas e espaço intermediário. Ó grande pessoa, vendo esta maravilhosa e terrível forma, todos os sistemas planetários ficam perturbados. 21. Todas as hostes de semideuses estão se rendendo a Ti e entrando em Ti. Alguns deles, muito atemorizados, estão de mãos postas, oferecendo orações. Hostes de grandes sábios e seres perfeitos, bradando “Que haja paz”, estão orando a Ti, cantando os hinos védicos. 22. Todas as várias manifestações do Senhor Shiva, os Adityas, os Vasus, os Sadhyas, os Visvadevas, os dois Asvinis, os Maruts, os antepassados, os Gandharvas, os Yakshas, os Asuras e os semideuses perfeitos estão Te contemplando com admiração. 23. Ó pessoas de braços poderosos, todos os planetas e seus semideuses estão perturbados ao verem Tua grande forma, com Teus vários rostos, olhos, braços, coxas, pernas, ventres e Teus vários dentes terríveis; e assim como eles estão perturbados, eu também estou. 24. Ó Vishnu onipenetrante, ao Te ver com Tuas muitas cores resplandecentes tocando o céu, Tuas bocas escancaradas e Teus grandes olhos reluzentes, minha mente fica perturbada pelo medo. Já não consigo manter minha firmeza ou equilíbrio mental. 25. Ó senhor dos senhores, ó refúgio dos mundos, por favor, conceda-me Tua graça. Não consigo manter o equilíbrio, vendo esses Teus rostos resplandecentes, parecidos com a morte, e esses Teus dentes medonhos. Em todas as direções sinto-me confuso. 26-27. Todos os filhos de Dhritarastra, juntamente com os reis que se aliaram a eles, bem como Bhisma, Drona e Karna – e nossos principais soldados também – estão precipitando-se em direção a Tuas bocas amedrontadoras. E vejo algumas pessoas presas com as cabeças esmagadas entre Teus dentes. 28. Assim como as muitas ondas dos rios desembocam no oceano, do mesmo modo, todos esses grandes guerreiros entram incandescentes em Tuas bocas. 29. Vejo todas as pessoas disparando precipitadamente em direção às Tuas bocas, como mariposas que são destruídas quando se lançam no fogo ardente. 30. Ó Vishnu, vejo-Te, com Tuas bocas flamejantes, devorando todas as pessoas de todos os lados. Cobrindo todo o Universo com Tua refulgência, Tu Te manifesta com raios terríveis e abrasadores. 31. Ó Senhor dos senhores, cuja forma é tão aterradora, por favor, diga-me quem és. Ofereço-Te minhas reverências; por favor, sê benevolente comigo. És o Senhor primordial. Quero conhecer-Te, pois não sei qual é a Tua missão.


Podemos observar que, depois de ver a forma universal do Senhor, Arjuna fica tomado de espanto e admiração e, repetidamente, glorifica a grandeza maravilhosa do Senhor. Neste forma universal, Arjuna teve a oportunidade de contemplar tudo o que poderia ser visto. Ele pôde ver o Senhor Brahma sentado na flor de lótus, o Senhor Shiva e todos os outros semideuses oferecendo orações e recitando hinos védicos. A forma universal se expandia sem limites, não existindo nem começo nem fim para ela. Ela manifestava milhares de rostos, braços, pernas, etc., e a visão era tão assustadora que Arjuna acabou perdendo seu equilíbrio mental e, tomado de espanto e medo, ofereceu suas respeitosas reverências ao Senhor Krishna. Além disso, depois de ver diferentes guerreiros precipitando-se dentro das bocas flamejantes da forma universal, Arjuna pediu para o Senhor ser bondoso para com ele e revelar a Sua missão.


Pérola 60. O PLANO DIVINO DO SENHOR (versos 32 a 34)


32. O Bem-aventurado Senhor disse: Eu sou o tempo, o grande destruidor dos mundos, e vim aqui para destruir todas as pessoas. Excetuando vós (os Pandavas), aqui, todos os soldados de ambos os lados serão mortos. 33. Portanto, levanta-te. Prepara-te para lutar e conquistar a glória. Vence teus inimigos e desfruta de um reino próspero. Por Meu arranjo, eles já estão mortos, e tu, ó Savyasacin, és apenas um instrumento na luta. 34. Drona, Bhisma, Jayadratha, Karna e outros grandes guerreiros já foram destruídos por Mim. Portanto, mata-os e não fiques perturbado. Simplesmente luta, e derrotarás teus inimigos na batalha.


Como já discutimos algumas vezes, Arjuna não estava inclinado a participar da batalha. Ela pensava que, se desistisse da batalha, as mortes de muitos soldados poderiam ser evitadas. No entanto, vendo todos os guerreiros de ambos os exércitos sendo lançados na boca devoradora da forma universal, Arjuna ficou apavorado. Diante do medo da terrível visão da forma universal exibida pelo seu amigo, o Senhor Krishna, Arjuna desejou conhecer mais detalhes sobre a causa da vinda do Senhor a este mundo. Ele quis saber especificamente qual era a missão do Senhor Krishna e o que ele realmente desejava. Aqui, portanto, o Senhor mostrou para seu amigo Arjuna que, sob a poderosa forma do tempo, Ele é o destruidor implacável e, assim, deixou claro que mesmo que Arjuna não quisesse participar da batalha, a destruição de todos o soldados fazia parte do plano do Senhor.


Pérola 61. ESPANTO E ÊXTASE DE ARJUNA (versos 35 a 46)


35. Sañjaya disse a Dhritarastra: Ó rei, depois de ouvir estas palavras faladas pela Suprema Personalidade de Deus, Arjuna trêmulo e de mãos postas, ofereceu repetidas reverências. Com voz balbuciante, ele estava amedrontado quando dirigiu ao Senhor Krishna as seguintes palavras. 36. Arjuna disse: Ó Senhor dos sentidos, o mundo se regozija ao ouvir Teu nome, e assim todos se apegam a Ti. Embora os seres perfeitos Te ofereçam suas respeitosas homenagens, os demônios têm medo, e fogem de um lado para o outro. Tudo isto se faz de forma justa. 37. Ó pessoa grandiosa, maior até mesmo que Brahma, és o criador original. Por que então deveriam eles furtar-se a oferecer suas respeitosas reverências a Ti? Ó ilimitado, Deus dos deuses, refúgio do Universo! És a fonte invencível, a causa de todas as causas, transcendental a esta manifestação material. 38. És a Personalidade de Deus original, o mais antigo, o santuário definitivo deste mundo cósmico manifestado. És o conhecedor de tudo e és tudo o que é cognoscível. És o refúgio supremo, situado acima dos modos materiais. Ó forma ilimitada! Penetras toda esta manifestação cósmica! 39. És o ar e és o controlador supremo! És o fogo, a água e a Lua! És Brahma, a primeira criatura viva e és o bisavô. Portanto, faço questão de oferecer-Te mil vezes minhas respeitosas reverências, e volto a oferecê-las vezes e mais vezes. 40. Ofereço-Te reverências de frente, de trás e de todos os lados! Ó poder incomensurável, és o Senhor cujo poder não conhece limites! És onipenetrante e, portanto, és tudo! 41-42. Colocando-Te na posição de amigo, sem sequer conhecer Tuas glórias, dirigi-me a Ti com as seguintes palavras imprudentes: “Ó Krishna”, “Ó Yadava”, “Ó meu amigo”. Por favor, perdoa tudo o que eu possa ter feito por loucura ou por amor. Quantas vezes Te desonrei, gracejando enquanto nos descontraíamos, deitávamos na mesma cama, sentávamos ou comíamos juntos, às vezes a sós e outras vezes diante de muitos amigos. Ó infalível, por favor, perdoa todas essas minhas ofensas! 43. És o pai desta manifestação cósmica completa, do móvel e do inerte. És o seu líder adorável, o mestre espiritual supremo. Ninguém é igual a Ti, e tampouco pode alguém ser uno contigo. Como então poderia haver alguém dentro os três mundos maior do que Tu, ó Senhor de poder imensurável? 44. És o Senhor Supremo, que deve ser adorado por todos os seres vivos. Então, eu me prostro para Te oferecer minhas respeitosas reverências e pedir Tua misericórdia. Assim como o pai tolera a insolência de seu filho, ou um amigo tolera a impertinência do amigo, ou uma esposa tolera a familiaridade de seu parceiro, por favor, tolera os erros que acaso eu tenha cometido contra Ti. 45. Após ver esta forma universal, que jamais havia visto, sinto-me satisfeito, mas ao mesmo tempo minha mente está perturbada pelo medo. Por isso, por favor, concede-me Tua graça e torna a revelar Tua forma como a Suprema Personalidade de Deus, ó Senhor dos senhores, ó morada do Universo. 46. Ó forma universal, ó Senhor de mil braços, desejo ver-Te em Tua forma de quatro braços, com elmo na cabeça e portando maça, disco, búzio e flor de lótus em Tuas mãos. Almejo ver essa Tua forma.


Depois de ouvir diretamente do Senhor sobre Sua missão transcendental, Arjuna ficou completamente iluminado e passou a glorificar o Senhor Krishna com orações extáticas. Ele pôde compreender perfeitamente bem que o Senhor Krishna era muito mais do que um simples amigo. Na verdade, ele pôde reconhecer que o Senhor Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, a causa de todas as causas e de tudo que existe. Ele é a Alma Suprema, pois reside no coração de todas as entidade vivas e é o controlador supremo, controlador inclusive dos semideuses poderosos como Shiva e Brahma. Ele é o refúgio supremo e ninguém é igual ou superior a Ele. Arjuna pôde entender que o Senhor Krishna está além de toda esta manifestação cósmica e que, na verdade, Ele é a própria causa deste mundo e tudo repousa unicamente nEle. Ele é onisciente e é o conhecedor de tudo: passado, presente e futuro. Ele é o mais velho, pois é o pai da primeira criatura, Brahmaji. Ele é o mestre espiritual supremo, pois foi unicamente Ele que, no começo da criação, transmitiu o conhecimento védico no coração do Senhor Brahma. Portanto, Sua grandeza é imensurável. Assim, Arjuna sentiu um profundo êxtase amoroso por seu amigo Krishna e, oferecendo todo tipo de respeito e reverência com bastante humildade, ele também pediu perdão ao Senhor Krishna pela negligência nos relacionamentos do passado. Agora que o Senhor estava manifestando Sua forma universal todo-poderosa, Arjuna pôde entende melhor a grandeza de seu amigo e sentiu-se um ofensor quando o tratava de maneira familiar, pois eles se relacionavam como amigos. Ao mesmo tempo, ele ficou feliz em ver que seu amigo era a poderosa Pessoa Suprema. Embora Arjuna estivesse contente, sua mente ainda estava bastante perturbada pelo medo e, assim, ele pede que o Senhor novamente manifeste Sua forma encantadora, semelhante à humana.


Pérola 62. ELIMINANDO A PERTURBAÇÃO DE ARJUNA (versos 47 a 51)


47. A Suprema Personalidade de Deus disse; Meu querido Arjuna, com prazer te mostrei, através de Minha potência interna, esta forma universal suprema. Dentro do mundo material, antes de ti, ninguém jamais viu esta forma primordial, ilimitada e plena de refulgência deslumbrante. 48. Ó melhor dos guerreiros Kurus, antes de ti, ninguém jamais vira esta Minha forma universal, pois nem através do estudo dos Vedas, da execução de sacrifícios, da caridade, de atividades piedosas ou de rigorosas penitências, posso Eu ser visto sob esta forma no mundo material. 49. Ficaste perturbado e confuso ao ver este Meu aspecto terrífico. Agora basta. Meu devoto, volta a livrar-te de toda a perturbação. Com a mente tranqüila podes então ver forma que desejas. 50. Sañjaya disse a Dhritarastra: A Suprema Personalidade de Deus, Krishna, tendo falado essas palavras a Arjuna, manifestou Sua verdadeira forma de quatro braços e por fim mostrou Sua forma de dois braços, encorajando assim o amedrontado Arjuna. 51. Ao ver Krishna em Sua forma original, Arjuna, então, disse; Ó Janardana, gora que vejo esta forma aparentemente humana e que possui tamanha beleza, minha mente está tranqüila e reassumi minha natureza original.


Esta parte do Bhagavad-gita mostra que as pessoas que consideram o Senhor Krishna como uma pessoa comum cometem a maior injustiça pois, como uma pessoa comum poderia revelar uma forma universal tão maravilhosa e depois uma forma de quatro braços para, finalmente, reassumir sua forma original?
Para satisfazer o desejo de Seu amigo Arjuna, pela primeira vez Krishna mostrou a Sua forma universal plena de refulgência e opulência. Embora o devoto não esteja interessado em ver esta forma universal, Arjuna quis que o Senhor a revelasse para que no futuro outras pessoas também pudessem se convencer da grandeza do Senhor e também se alguém se apresentasse como uma encarnação, as pessoas pudessem pedir para ver sua forma universal. Como vimos anteriormente, Arjuna fora dotado de visão divina, mas, na verdade, pelo simples fato de ser um devoto puro do Senhor, Arjuna possuía uma natureza divina e já tinha uma visão divina. Entretanto, os não-devotos invejam Krishna e, como são ateus, nunca podem ter uma visão divina. Muitas vezes, tais ateus também estudam a literatura védica por estarem interessados no aspecto impessoal do Supremo. Além disso, eles também executam sacrifícios, dão caridades e aceitam inconveniências físicas para algum propósito, mas, ainda assim, se eles não se tornarem devotos do Senhor, nunca poderão ver ou sequer entender esta forma universal do Senhor. Na verdade, o devoto prefere relacionar-se com a forma original do Senhor, pois esta relação possibilita a reciprocidade de sentimentos amorosos. Por isso, o Senhor Krishna concordou em manifestar novamente Sua forma original de dois braços, acalmando a mente de Seu confuso amigo e devoto Arjuna.


Pérola 63. OS MISTÉRIOS DA COMPREENSÃO ESPIRITUAL (versos 52 a 55)


52. A Suprema Personalidade de Deus disse: Meu querido Arjuna, esta Minha forma que agora vês é muito difícil de contemplar. Até mesmo os semideuses sempre buscam a oportunidade de ver esta forma, que é tão querida. 53. A forma que vês com teus olhos transcendentais não pode ser compreendida através do simples estudo dos Vedas, nem por submeter-se a sérias penitências, nem por fazer caridade, nem por prestar adoração. Não é por estes meios que se pode ver-Me como sou. 54. Meu querido Arjuna, só pelo serviço devocional indiviso é possível compreender-Me como sou, tal qual Me apresento diante de ti, e assim poder Me ver diretamente. Só desse modo podes ingressar nos mistérios da compreensão acerca de Mim. 55. Meu querido Arjuna, aquele que se ocupa em Meu serviço devocional puro, livre das contaminações das atividades fruitivas e da especulação mental, que trabalha para Mim e faz de Mim a meta suprema de sua vida, sendo amigo de todos os seres vivos – com certeza virá a Mim.


O devoto puro que se ocupa em serviço devocional pleno em consciência de Krishna pode desenvolver olhos espirituais, quando passa a ver o Senhor o tempo todo. Na verdade, esta visão espiritual é uma revelação divina e é o resultado da atitude pura de serviço que tal devoto desenvolveu. Esta revelação espiritual é tão rara que ela não é possível nem sequer para os semideuses que não sejam devotos puros. Embora tais semideuses estejam sempre esperançosos de contemplar a forma maravilhosa de Krishna com dois braços, eles têm bastante dificuldade em compreendê-la, pois, na sua maioria, não são almas totalmente rendidas ao Senhor. No Srimad-Bhagavatam se evidencia que, quando o Senhor estava prestes a aparecer neste mundo e ainda estava no ventre de Devaki, os semideuses vinham oferecer suas reverências ao Senhor, embora, naquela ocasião, Ele não lhes fosse visível. O materialista tolo, no entanto, insiste em considerá-lO como uma pessoa comum e mesmo que mostre algum respeito ao Senhor Krishna, muitas vezes não o faz diretamente a Ele, mas a “algo” impessoal dentro dEle. No Quarto Capítulo, aprendemos que, pelo simples fato de compreender o aparecimento e as atividades do Senhor, uma pessoa consegue libertar-se deste mundo de nascimentos e mortes. Isto é um fato por que o nascimento do Senhor e a manifestação de Sua forma transcendental são bastante misteriosos. Primeiramente, Ele aparece diante de Seus pais na forma de Vishnu de quatro braços e então transforma-Se numa manifestação de dois braços semelhante à humana e isto certamente desconcerta as pessoas ateístas e desprovidas de serviço devocional. De qualquer modo, a forma universal é completamente diferente da forma do Senhor de dois ou quatro braços. A forma universal mostrada a Arjuna é temporária, ao passo que as formas de dois e quatro braços são eternas e transcendentais. A conclusão deste capítulo, portanto, é que devemos procurar entender a forma original transcendental do Senhor Krishna e desenvolver nossa relação com ela, o que só é possível através do serviço devocional. A forma universal é uma manifestação divina menos importante por que é temporária, e mesmo a forma quatro braços que é transcendental também foi manifestada por Krishna. Logo, Krishna é a origem de todas as manifestações. Há tantas encarnações e manifestações de Krishna quanto são as ondas do oceano, mas o devoto puro se interessa completamente pela forma original de Krishna, que é conhecido como Govinda. Aqueles, portanto, que se apegam a Krishna e prestam-Lhe serviço com amor e devoção podem compreendê-lO completamente e vê-lO sempre dentro do coração.

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