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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Erros Perdoáveis




Em 1973, Srila Prabhupada recebeu uma carta incomum de uma mulher que havia se encontrado com dois de seus jovens discípulos na Califórnia. Ela se queixou que eles “tinham uma visão muito negativa das pessoas com que se encontravam”. Tocado por sua preocupação genuína, Srila Prabhupada reservou parte de seu atarefado tempo para lhe responder cuidadosamente.


Sua Graça,

Por favor, aceite esta carta com Amor... Conversamos com dois de seus rapazes em momentos diferentes. Ambos tinham uma visão muito negativa das pessoas com que se encontravam.

Não creio que isso está de acordo com o que deveria ser.

Esses rapazes são representantes de Deus. Isso é algo que vem de dentro. A visão deles precisa vir acompanhada de misericórdia. Nós compreendemos isso; portanto, colha esses pe­quenos pedaços de céu para colocar no meio dessas pessoas. Do contrário, seu objetivo será baldado.

O Amor existe. Que ele seja tal como é: com Amor ou nada.

Minhas preces estão com vocês, e peço que as suas estejam comigo.


Sua em Deus, abençoado seja,

Lynne Ludwig



Resposta de Srila Prabhupada



Minha cara Lynne Ludwig,


Aceite, por favor, minhas bênçãos. Acabo de receber sua carta enviada da Califórnia, e analisei seu conteúdo cuidadosa­mente, embora, devido a estar viajando e pregando intensamente em uma excursão pela Índia, não tivesse tido a oportunidade de responder-lhe em conclusão até agora. Sua queixa é que você encontrou-se com dois de meus jovens discípulos na Califórnia e a você pareceu que eles tinham “uma visão muito negativa das pes­soas com que se encontravam”. Evidentemente, não tenho conhe­cimento do caso e de quais foram as circunstâncias, mas, por favor, perdoe meus amados discípulos por qualquer aspereza ou in­discrição da parte deles. Afinal, entregar a própria vida completamente ao serviço ao Senhor não é coisa fácil, e maya, ou a energia material ilusória, trabalha com afinco especialmente para enredar novamente aqueles que deixaram o serviço a ela para tornarem-se devotos. Portanto, a fim de resistirem ao ataque de maya e permanecerem fortes sob todas as condições de tentação, devotos jo­vens ou inexperientes no estágio neófito de serviço devocional adotarão às vezes uma atitude contra as coisas ou pessoas que se­jam possivelmente prejudiciais ou constituam um desafio a suas tenras trepadeiras devocionais. Pode ser mesmo que eles se exce­dam em tais sentimentos só para se proteger e, desse modo, à vista de alguns não-devotos, parecerá que, por estarem talvez ainda muito enamorados da energia material de maya, são negativos ou pessimistas.


O fato real, no entanto, é que este mundo material é um lugar miserável, negativo, cheio de perigos a cada passo; ele é duhkhalayam asasvatam (Bhagavad-gita 8.15), uma morada temporária de nascimento, morte, velhice e doença, um lugar de sofrimento e dor apenas. Chegar à plataforma de compreender essas coisas tais como elas são não é algo muito co­mum, em decorrência do que as pessoas que atingem esse estágio são descritas como “grandes almas”.


mam upetya punar janma

duhkhalayam asasvatam

napnuvanti mahatmanah

samsiddhim paramam gatah

(idem)


Isto significa que aqueles que compreenderam que os mundos materiais são lugares de miséria e temporariedade – duhkhalayam asasvatam – jamais voltam aqui, e, por eles serem mahatmanah, grandes almas, Krsna os mantém conSigo porque eles se qualificaram para escapar deste lugar asqueroso ao se tornarem Seus devotos puros. Este verso é falado por Krsna, ou o pró­prio Deus, no Bhagavad-gita. Quem poderia ser uma autoridade mais definitiva? A questão é que, para avançar em vida espiritual, é preciso ver todas as coisas materiais com olhos pessimistas, a menos que essas mesmas coisas sejam utilizadas para servir e satisfazer Krsna. Não temos muita esperança de obter dentro deste reino de matéria grosseira algum prazer ou satisfação duradoura para nossos mais profundo e ardentes desejos.


Você se refere à palavra “amor” várias vezes em sua carta, mas o fato real é que não existe amor algum neste mundo material. Isso é falsa propaganda. O que, neste lugar, eles chamam de amor é mera luxúria, ou desejo de gratificação pessoal dos sentidos:


kama esa krodha esa

rajo-guna-samudbhavah

mahasano maha-papma

viddhy enam iha vairinam


Krsna diz a Arjuna, Seu discípulo: “É apenas a luxúria... que é o inimigo pecaminoso deste mundo, inimigo este que tudo devora”. (Bhagavad-gita 3.37) No idioma védico, não há um termo para “amor” materialista, como o chamamos atualmente. O termo kama descreve a luxúria ou o de­sejo material, e não o amor, mas o termo que encontramos nos Vedas para amor verdadeiro é prema, que significa o amor de alguém unicamente por Deus. Afora o amor a Deus, não há outra possibilidade de amor. Ao contrário, há apenas desejo luxurioso. Dentro dessa atmosfera de matéria, todo o campo de atividades humanas – e não apenas toda atividade dos seres humanos, como também a atividade de todas as entidades vivas – baseia-se, é estimulado e assim polui-se pelo desejo sexual, na atração entre macho e fêmea. Por essa vida sexual, todo o universo está girando – e sofrendo! Essa é a dura verdade. O assim chamado amor daqui se traduz em: “Você satisfaz os meus sentidos que eu satisfaço os seus”, e, tão logo acaba a satisfação, vem o divórcio, a separação, de­savenças e ódio. Tantas coisas estão acontecendo sob a falsa concepção de amor. Amor real significa amor a Deus, Krsna.


Todos querem depositar sua tendência amorosa em algum objeto que, em sua opinião, seja de valor. Contudo, isso é apenas questão de ignorância, porque as pessoas têm um pobre fundo de conheci­mento sobre onde encontrar esse supremo objeto de amor que seja realmente digno de se aceitar e que corresponda ao amor delas. As pessoas simplesmente não sabem – não há informação adequada. Tão logo você tenha algum apego a alguma coisa material, essa coisa vai esbofeteá-lo, deteriorar-se e desapontá-lo. É algo destinado a dissaboreá-lo e frustrá-lo. Isso é fato. Estes jovens em seu país, e em todo o mundo, estão aceitando: “Sim, isso é fato”, e estão obtendo com Krsna a informação correta:


bahunam janmanam ante

jnanavan mam prapadyate

vasudevah sarvam iti

sa mahatma sudurlabhah


“Após muitos nascimentos e mortes, aquele que é realmente sábio rende-se a Mim, sabendo que Eu sou a causa de todas as causas e de tudo o que existe. Semelhante grande alma é muito rara”. (Bhagavad-gita 7.19) Novamente Krsna usa a palavra mahatma, grande alma. Portanto, os nossos devotos com os quais você se encontrou não são rapazes e moças comuns. Não. Eles devem ser considerados grandes almas, realmente sábios, porque eles experimentaram em muitos nascimentos a doença miserável da vida material e se des­gostaram profundamente. Eles, em virtude disso, estão buscando um conhe­cimento superior – estão buscando algo melhor –, e, quando eles encontram Krsna e se rendem a Ele, eles se tornam mahatmas, indivíduos verdadeiramente situados em conhecimento. Este mundo material é tal como uma prisão; é um lugar de punição destinado a nos levar ao ponto de nos desgostarmos profundamente, fazendo com que, por fim, rendamo-nos a Krsna e voltemos à nossa natureza original de vida eterna em bem-aventurança e conhecimento completo. Portanto, é mérito desses devotos eles terem feito aquilo que é sudurlabhah, muito raro entre todos os homens na sociedade humana.


Rendendo-se a Krsna, a pessoa encontrará o objeto de investimento derradeiro de seu amor: Deus. O amor a Deus está presente em todos, assim como o fogo em um fósforo apagado, mas ele está encoberto. Contudo, se a pessoa, de alguma forma, desenvolver seu amor adorme­cido por Deus, e Krsna Se tornar seu objeto supremo de adoração, o amigo supremo, o senhor supremo ou o amante supremo, então ela ja­mais ficará novamente desapontada ou infeliz, mas o contrário, pois sua propensão amorosa estará corretamente situada:


mac-citta mad-gata-prana

bodhayantah parasparam

kathayantas ca mam nityam

tusyanti ca ramanti ca

(Bhagavad-gita 10.9)


O devoto cuja vida é rendida a Krsna está sempre desfrutando de “grande satisfação e bem-aventurança”, e ele é constantemente esclarecido, sempre positivo, e não negativo, como você diz. O devoto avançado é amigo de todos. A yoga-yukto visuddhatma, a alma purificada ocupada no serviço devocional amoroso a Krsna, é sarva-bhutatma-bhutatma, querida por todos e benquerente de todos. Em outra passagem, Krsna afirma que yo mad-bhaktah sa me priyah, Seu devoto, que Lhe é muito querido, advesta sarva-bhutanam maitrah karuna eva ca (Bhagavad-gita 12.13), não é invejoso, mas é um amigo bondoso de todas as entidades vivas. O devoto deve ser, além disso, igual para com todos, panditah sama-darsinah (Bhagavad-gita 5.18). Ele nunca discrimina, dizendo: “Este é bom, aquele é mau”. Não.


Essas são as descrições dos estágios mais avançados de cons­ciência de Krsna que os devotos alcançam pelo desenvolvimento de conhecimento maduro. Atualmente, muitos de nossos estudan­tes são jovens. Eles estão aprendendo de maneira gradual, e o processo é tão eficiente, certo e autorizado que, se eles se mantêm fiéis a ele, chegam ao ponto correto, como você diz, de amar. Esse amor, todavia, não é material, de forma que não deve ser julgado com base na pla­taforma sentimental e falsa dos tratos mundanos comuns. Essa é a nossa questão. Portanto, dizer que eles não estão amando pode ser verdade a partir do ponto de vista dos materialistas. Eles renunciaram a afeição a família, amigos, esposa, país, raça e assim por diante, que são coisas baseadas no conceito de vida corpóreo, ou na oscilante gratificação dos sentidos. Eles se desapegaram um pouco do amor a maya, ou da luxúria, e querem o amor a Krsna, ou o amor infindável e plenamente recompensador, mas eles ainda não se desenvolveram até esse ponto. Isso é tudo. Não podemos esperar que, repentinamente, seus compatriotas, que estão viciados em tantos maus hábitos, abandonem o comer de carne, o consumo de tóxicos, a prática de sexo ilícito e tantas outras coisas sórdidas e, da noite para o dia, tornem-se grandes almas autorrealizadas. Isso não é pos­sível. É utópico. No entanto, o simples fato de ser iniciado como devoto de Krsna coloca a pessoa na categoria mais elevada da sociedade humana. Sa buddhiman manusyesu sa yuktah krtsna-karma-krt (Bhagavad-gita 4.18): “Ele é inteligente na sociedade humana. Ele está na posição trans­cendental, embora ocupado em todas as espécies de atividades”. E mesmo que tal devoto não tenha ainda avançado até o mais elevado nível de compreensão espiritual, ele deve ser consi­derado a personalidade mais elevada, independentemente de quais­quer defeitos temporários.


api cet su-duracaro

bhajate mam ananya-bhak

sadhur eva sa mantavyah

samyag vyavasito hi sah


“Mesmo que um devoto cometa as ações mais abomináveis, ele deve ser considerado santo devido a estar apropriadamente situado”. (Bhagavad-gita 9.30) Como vocês diriam: “Errar é humano”. Portanto, no está­gio neófito, é sempre de se esperar que se cometam algumas dis­crepâncias. Por favor, veja a coisa sob este prisma e perdoe-lhes por seus pequenos erros. O importante é que eles deram tudo, até mesmo suas vidas, a Krsna – e isso jamais será um erro.


Seu eterno benquerente,

A.C. Bhaktivedanta Swami


Revisão de Karunika devi dasi e Bhagavan dasa



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