Oito Versos para o Amor a Deus
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Chandramukha Swami
Krsna é como um mel de ilimitada doçura. Mas como o mel pode
experimentar a sua própria doçura? Na verdade, somente Radha, a
principal personalidade transcendental a reciprocar prema com
Krsna, tem a capacidade de saborear plenamente a Sua doçura. De qualquer
modo, as aventuras transcendentais amorosas entre Radha e Krsna, ou lilas, são ilimitadas – sendo que Krsna, em Sua posição de desfrutador supremo, é o reservatório transcendental de tais lilas.É claro que as posições de Radha e de Krsna são igualmente transcendentais, mas ainda assim têm características diferentes: enquanto Radha ocupa a posição de ‘objeto’ do prazer imaculado de Sri Krsna, Ele Se mantém na posição de ‘sujeito’. Isso mostra que, num sentido, a posição de Radha é ainda superior, pois embora Krsna desfrute da companhia dEla tanto quanto Ela da companhia dEle, o intercâmbio de doçura transcendental entre o casal espiritual concede mais prazer a Radha do que a Krsna. Na sua introdução do capítulo quatro (Adi-lila) do Sri Caitanya-caritamrta, Srila Prabhupada confirma este ponto confidencial:
“Radharani sentia mais prazer transcendental na companhia de Krsna do que Ele podia compreender sem assumir a posição dEla. Mas era impossível para Sri Krsna desfrutar na posição de Srimati Radharani, porque tal posição era-Lhe inteiramente estranha. Krsna é o ser masculino transcendental e Radharani é o ser feminino transcendental. Portanto, a fim de conhecer o prazer transcendental de amar a Krsna, o próprio Senhor Krsna apareceu como o Senhor Caitanya, aceitando as emoções e o brilho do corpo de Srimati Radharani”.
Esse é o segredo da personalidade do Senhor Caitanya! Ele é o próprio Krsna que veio com o propósito de compreender a Sua própria doçura. Caitanya é Krsna saboreando a posição de Radha, pois somente assim Ele poderia entender quão sublime é a atração que Ela sente por Ele e quanta bem-aventurança Ela experimenta por saborear a Sua própria doçura.
A atração espontânea entre o casal transcendental gera um entusiasmo que os leva a Se encontrarem. Mas, para celebrar esse encontro, há a necessidade do sentimento de separação entre amante e amada. É claro que, materialmente falando, a separação provoca dores e, portanto, é indesejável; mas, do ponto de vista altamente transcendental, a mesma separação, estando na plataforma absoluta, fortalece os laços de amor e intensifica os desejos dos amantes de se encontrarem. Segundo os acaryas vaisnavas, o sentimento de separação que Radha sente por Krsna, como foi demonstrado por Sri Caitanya em Jagannatha Puri, especialmente nos Seus últimos dias, por estar imbuído de crescente expectativa, tornou-se ainda mais saboroso do que o próprio encontro e fez com que Ele manifestasse sintomas de êxtase sem paralelo. Como se descreve no Caitanya-caritamrta, em Suas últimas lilás, Sri Caitanya permanecia simplesmente absorto no canto e na dança, enquanto alternava Seus humores. Ora sentia que havia alcançado Krsna, ora caía em profunda melancolia diante do sentimento de perda do Seu Senhor adorável. Agarrando-Se a Seus associados íntimos, Ele dizia: “Encontrei o Senhor de Minha vida, mas perdi-O novamente. Quem O tomou de Mim?”. Várias transformações físicas de saudades de Krsna se manifestavam nEle de uma só vez: ansiedade, vigília, agitação mental, conversas insensatas, loucura, ilusão, etc., e, assim, Ele Se comportava de maneira inconcebível. Portanto, as orações Sri Siksastaka, como estão registradas no último capítulo do Sri Caitanya-caritamrta, foram compostas por Sri Caitanya em Seus últimos dias transcendentais, quando Ele sentia as dores agudas da separação de Krsna. Assim absorto no humor de Srimati Radharani, o Senhor manifestava sintomas de loucura transcendental (divyonmada) muitíssimo elevada. Na verdade, Ele estava nos dando uma demonstração prática de como podemos adquirir amor a Krsna adotando esse mesmo sentimento de separação por Krsna, sunyayitam jagat sarvam govinda-virahena me…
Mas Sri Caitanya não veio apenas satisfazer Seus interesses íntimos; Ele veio também propagar a importância especial de cantar Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare e, assim, executar a lila de distribuir livremente krsna-prema, o amor puro por Deus, uma lila tão confidencial que não cabe dentro da jurisdição da lógica experimental e dos argumentos.
Certa ocasião, quando Jagadananda Pandita voltava de Navadvipa, ele trouxe para o Senhor Caitanya um soneto composto por Advaita Acarya. Tratava-se de uma composição tão misteriosa que somente Sri Caitanya podia entendê-lo. Quando Lhe perguntaram acerca do significado da mensagem de Advaita, Ele respondeu: “Não entendo o seu significado. Foi o próprio Advaita Acarya quem Me convidou a vir para ser adorado, mas parece que sua adoração já está concluída…”. Ao ouvirem isto, os devotos ficaram atônitos e melancólicos. Desse dia em diante, o estado emocional do Senhor Caitanya agravou-se, multiplicando Seus sentimentos de saudade por Krsna, o que fez com que Suas atividades se tornassem ainda mais insanas. O Senhor passava Seus dias e noites ouvindo as canções cantadas por Ramananda Raya e Svarupa Damodara, e às vezes Ele pessoalmente recitava alguns versos, enquanto expressava seus significados: “Meus queridos amigos, confesso-lhes que o cantar do santo nome é o meio mais plausível para se alcançar a salvação nesta era. Basta cantarmos para que nos livremos de todos os hábitos indesejáveis e mergulhemos nas ondas do amor a Deus”. Então, antes que Sri Caitanya concluísse Seus passatempos na Terra, Ele achou por bem abençoar o mundo com oito versos definitivos acerca das glórias dos santos nomes, e, assim, compôs o Siksastaka, que não apenas resume a essência da consciência de Krsna, mas dá orientações bastante claras acerca da verdadeira natureza daquele que desenvolveu seu amor extático.
Srila Prabhupada praticamente não escreveu nenhum significado no capítulo vinte do Caitanya-caritamrta, intitulado “As Orações Siksastaka”, uma vez que Srila Bhaktivinoda Thakura e Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura já haviam executado tal tarefa com absoluta perfeição, como podemos constatar aqui nesta publicação. Um ponto que ele apresenta num dos seus três únicos significados (verso 28), chamou-me bastante a atenção e deve ser levado a sério por todos os seus seguidores. Quando descreve a intensificação da humildade de Sri Caitanya, Srila Krsnadas Kaviraja Gosvami afirma que “onde quer que haja uma relação de amor a Deus, é sintoma natural o devoto não considerar como tal. Ao invés disso, ele sempre pensa que não tem sequer uma gota de amor por Krsna”. Trata-se de um ponto tão importante que Srila Prabhupada não resistiu e fez-nos um alerta: “Uma classe de pretensos devotos, conhecidos como prakrta-sahajiyas, às vezes manifestam sintomas devocionais só para exibirem sua boa fortuna. Contudo, eles estão fingindo, pois suas características devocionais são externas… Quem é realmente avançado não tenta se promover. Muito pelo contrário, esforça-se cada vez mais para prestar serviço ao Senhor”. Continuando sua explicação, Prabhupada acrescenta que os sahajiyas são reconhecidos por se retratarem como devotos avançados e transcendentalmente bem-aventurados, ávidos por saborear as doçuras transcendentais e até elevados em amor conjugal com Krsna. Ou seja, todo cuidado é pouco.
O bondoso Krsnadas Kaviraja termina o registro das orações Siksastaka outorgando-nos uma maravilhosa bênção:
prabhura ‘siksastaka’-sloka yei pade, sune
krsne prema-bhakti tara bade dine-dine
“Caso alguém recite ou ouça estes oito versos de instrução, compostos
por Sri Caitanya Mahaprabhu, seu amor extático e sua devoção a Krsna
crescerão dia após dia”.krsne prema-bhakti tara bade dine-dine
Desse modo, esta publicação, cheia de maravilhosos significados de dois dos nossos principais acaryas,é bastante oportuna e deve ser recebida com grande entusiasmo pelos leitores vaisnavas, pois serve como um poderoso farol espiritual capaz de iluminar plenamente o caminho espiritual dos devotos, expulsando toda escuridão proveniente de falsos conceitos de bhakti.
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