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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A verdade sobre Srila Prabhupada

A verdade sobre Srila Prabhupada
e o sistema Ritvik

A verdade sobre Srila Prabhupada,
o “sistema rtvik” e o guru-parampara
Por Prabhu Mangala

  

Todas as glórias a Sri Sri Guru-Gauranga!

Caros devotos e simpatizantes, todas as glórias ao movimento de sankirtana de Sri Caitanya Mahaprabhu, que, por pura misericórdia das entidades vivas presas às ilusões deste mundo temporário, rompeu as barreiras que ainda teimavam em conter o fluxo arrebatador de prema (amor puro por Deus). Por favor, tenham compaixão desta alma caída, influenciado que sou pelos apelos de kali-yuga, e aceitem minhas reverências.

Não me é exatamente agradável ter de escrever tais palavras de desagravo ao que vem sendo amplamente divulgado via Internet e outros meios, mas decorre que muito do que tem sido dito em nome da “Consciência de Krsna” e da “missão de Srila Prabhupada (Bhaktivedanta Svami)” são equívocos acintosos que atingem patamares superlativos de demência. Seja por ignorância ou por má fé, o fato é que pessoas têm se apresentado como “devotos”, “discípulos” de Srila Prabhupada, e têm tomado para si o papel de pregadores – o que significa se colocar como indivíduos suficientemente qualificados em vida e conhecimento espiritual –, mas isto o fazem em descompasso total com as injunções das escrituras védicas e com as instruções dos santos vaisnavas. Notadamente, estas pessoas ofendem Srila Bhaktivedanta Svami (Srila Prabhupada) – e outros devotos santos –, ao mesmo tempo em que, de forma desesperada, vociferam aos quatro ventos que as improbidades que veiculam seriam, por instrução e obra, ensinamentos do próprio Srila Svami Mahraja (Srila Parbhupada).

Notadamente, me refiro às concepções errôneas acerca de guru e sucessão discipular (guru-tattva) pregadas pelos assim auto-intitulados “rtviks” (IRM) e, por extensão, exponho igualmente os descaminhos que envolvem a instituição ISKCON, na figura dos seus membros dirigentes, que numa série de equívocos há muitos anos vem fazendo uma espécie de contraponto à “filosofia rtvik”, mas com efeitos paradoxalmente danosos.

Devemos, então, começar investigando: O que é guru, afinal? Qual papel cumpre um guru? Posto que este é o tema sobre o qual toda a discussão se desenrolará. Mas, ainda antes disto, nos cabe estabelecer o processo pelo qual iremos proceder à investigação proposta. E o primeiro dado a se destacar é o fato de que os Vedas, aqui aceitos como autoridade – e neste ponto não há discordâncias, pois este é o princípio de autoridade aceita em qualquer ramo da filosofia védica –, como escrituras completamente transcendentais que são, literatura aut-explicativa, apresentam o processo inquisitivo pelo qual podemos conduzir toda e qualquer argumentação acerca de tattva-siddhanta (as verdades conclusivas filosófico-escriturais). Assim sendo, vamos ver que nos Vedas o próprio Senhor Krsna estabelece:

tad viddhi pranipatena pariprasnena sevaya
/ upadeksyanti te jnanam jnaninas tattva-darsinah
Bhagvad-gita, 4.34

 “Para saber sobre a Verdade Absoluta, a pessoa
deve se aproximar de um Guru, oferecendo-lhe prostradas reverências, de modo a fazer perguntas relevantes e a render-lhe serviço. Este Guru, tendo realização acerca da Verdade, pois dela tem experiência direta, pode dar iluminação por meio de conhecimento transcendental”.

Voltamos, então, ao ponto inicial. Todos os sastras (escrituras) afirmam que amnaya-pramana – as evidências recebidas por intermédio direto de um guru em sucessão discipular fidedigna – são as referências sobre as quais devemos nos debruçar e construir nosso arcabouço de conhecimento, em níveis prático e teórico. Isto estabelece, portanto, a centralidade da figura do guru. Esta é a primeira conclusão em guru-tattva: guru é a figura central em nossa vida espiritual. De modo que encontramos, nos Vedas, o Svetasvatara Upanisad (6.23) dizendo que “as verdades escriturais serão reveladas aos que tiverem a mesma devoção por Sri Gurudeva e Bhagavan (Deus)”. Fica posto que Sri Gurudeva é não diferente de Bhagavan, de modo que o próprio Senhor Krsna instrui a Uddhava:


acaryam mam vijaniyan navamanyeta karhicit
/ na martya-buddhyasuyeta sarva-deva mayo guruh
Srimad-bhagavatam 11.17.27


“Oh Uddhava! O acarya é tão bom quanto Eu mesmo. Ele é a Minha própria expansão. A nenhum momento você, por inveja, pode desrespeitá-lo ou negligenciá-lo, tomando o Guru por uma pessoa comum, mortal; nem se deve considerar que ele tenha falhas, porque o Guru é o sumo completo de todos os semideuses”.

 

Mas ainda devemos averiguar mais, devemos estar cientes das verdadeiras qualidades de um guru. Cientes de que ele não é só alguém capaz de controlar os ímpetos da fala, da língua, da mente, da ira, do estômago e dos genitais. O auto-controle é um pressuposto para algo muito maior, posto que auto-controle sozinho não é Bhakti (devoção pura). O Srimad-bhagavatam, o purana imaculado, enumera as qualidades de Sri Gurudeva como se segue (verso 11.3.21): 1) ele tem realização completa acerca das injunções védicas, 2) acerca da Suprema Verdade Absoluta (para-brahma Sri Krsna), e 3) ele é completamente desapegado das coisas mundanas. Daí depreende-se que Sri Guru é a expressão viva, a comprovação empírica de que tudo o que as escrituras reveladas ensinam têm o poder de nos conduzir a um determinado patamar de desenvolvimento e realização espiritual que, não fosse o exemplo dele (guru), a nós pareceria simplesmente impossível alcançar.

Agora que nos aproximamos um pouco mais de guru-tattva, que temos uma noção melhor estabelecida de quem o guru verdadeiramente é, noção de que a ele devemos nos render com amor, prestando-lhe serviço e inquirindo sempre, mas de forma humilde – pois este é o processo para o nosso próprio benefício que os Vedas recomendam –, fica a pergunta: Como podem os assim ditos “rtviks” e uma boa parcela dos devotos que se designam filiados à ISKCON, dizer que o guru-parampara termina em Srila Prabhupada e ninguém mais pode ser verdadeiramente guru depois dele? Estas pessoas estão simplesmente negligenciando toda a obra de Bhaktivedanta Svami Prabhupada, e custa acreditar que possam ter lido os textos de Srila Prabhupada, nos quais ele corrobora, e assim também a sua vida serve de exemplo, com tudo o que a sucessão discipular fidedigna e os Vedas estabelecem – a começar por afirmar a eternidade do vaisnava-dharma, da religião eterna baseada na vida e obra daqueles que são exemplos vívidos do caminho que conduz a Bhakti (devoção pura por Deus). Os Vedas falam sobre e exaltam, obviamente, a esta verdade eterna expressa na forma da misericórdia de Krsna que nunca abandona este mundo: os vaisnavas (devotos) puros! Guru-parampara!


Baseados em argumentações pontuais, completamente descontextualizadas, rtviks e ISKCON se digladiam pela autoria de um projeto funesto, cujo objetivo vergonhoso, mesmo que algumas vezes dissimulado, é o de decretar o fim da eternamente transcendental e santa linha discipular da Sri Brahma Madhva-Gaudiya-Vaisnava Sampradaya. E ainda que assim o tentem fazer, algo que é impossível sem duvida, não seria tão significativo o descalábrio se não fosse o fato destes porem à frente a imagem de Srila Bhaktivedanta Svami (Srila Prabhupada) como o “grande articulador” deste projeto, impingindo a Srila Prabhupada a mácula de um fratricida. Seria, segundo esta visão estapafúrdia, Srila Prabhupada de um lado, o “único acarya” (devoto puro), e do outro, em oposição, todos os outros sadhus vaisnavas, incluindo-se aí irmãos espirituais de Srila Prabhupada, alguns que ele mesmo considerava como seus siksa gurus diretos – a exemplo Srila Bhakti Raksaka Sridhara Gosvami Maharaja –, personalidades santas que para os tais rtviks não passariam de devotos desqualificados. Não poderia haver maior ofensa a Srila Prabhupada! Maior ofensa aos sadhus vainavas!

De todas as aparadhas (ofensas), vaisna-aparadha é a mais abominável. Assim estabelece o Sri Caitanya-caritamrta (Madhya-lila 19.156):

yadi vaisnava-aparadha uthe hati mata
/ upade va cinde tara sukhi yaya pata

“Se, enquanto cultiva a trepadeira do serviço devocional (Bhakti) neste mundo material, o devoto comete uma ofensa aos pés de lótus de uma Vaisnava, sua ofensa é comparável a um elefante loco que esmaga arrancando pela raiz a trepadeira da devoção. Desta maneira, as folhas da trepadeira de Bhakti secam”


E Srila Bhaktivedanta Svami Prabhupada comenta este verso em uma frase sumária: “Nossa atitude devocional cresce na companhia dos Vaisnavas”. Estes mesmos Vaisnavas que, segundo expresso no Srimad-bhagavatam (1.13.10), são a própria personificação dos locais sagrados, são eles mesmos os reservatórios de Bhakti, a fonte de toda a auspiciosidade e bem-aventurança que existem neste mundo, provindas diretamente de Krsna.

 Os Vedas, e especialmente o Caitanya-caritamrta, estabelecem que vida espiritual é vaisnava dasa-anudasa, aceitar a linha discipular e o serviço aos pés de lótus de um servo adorável de Sri Hari, que por sua vez também é servo, do servo, do servo... E, estando junto a este servo, que perfeito em todos os aspectos é elevado à condição de guru – pois só o servo perfeito pode ser guru perfeito –, devemos ouvir dele acerca da Verdade, pois dele provém o som transcendental, sabda-pramana. Eis o primeiro processo de Bhakti: sravana, ouvir diretamente da fonte fidedigna. Caso contrário, o que teremos será cego guiando cego.


“Cego guiando cego” é a idéia que resume bem o que é a “filosofia” rtviki e o que muitos afilados à ISKCON defendem como sendo guru-tattva. Para estes, só restaram neste mundo almas condicionadas, e bastaria ler os livros de Srila Prabhupada para se “elevar” em consciência de Krsna.

 Chega a ser quase infantil, ainda que a intenção e os métodos difamatórios desses “rtviks” nada tenham de inocentes, se esquecer ou negligenciar a instrução mais primária que tem haver com o “ouvir da fonte fidedigna (guru)”. Bhakti não é filosofia mundana, que a gente adquire na livraria mais próxima, lê e interpreta por próprio capricho.

Quando um “rtvik” se coloca à frente e diz que é um representante de Srila Prabhupada, ele se coloca no lugar do guru para dizer que não existem mais gurus. Por serem impostores – já que tomam o lugar do devoto puro para desmentir a existência deste –, não têm o cuidado de averiguar, ou preferem omitir mesmo, a verdade de que só um devoto puro pode realmente entender o coração de um outro devoto.

Não é por capricho próprio que vamos entender o coração de um devotodo quilate de Srila Svami Prabhupada. Os “rtviks” matam a figura do guru para tomar o seu lugar e assim desencaminhar a massa confusa e inocente. Cegos guiando cegos!


É no mínimo redundante, para não dizer constrangedor, ter que argumentar o óbvio de que Srila Bhaktivedanta Svami Prabhupada apresenta e defende a eternidade do vaisnava-dharma e guru-parampara.

Em realidade, sem esta concepção de guru-tattva e da eternidade do guru-parampara, todos os esforços em direção à Consciência de Krsna, e o mesmo podemos dizer da obra de Srila Svami Maharaja Prabhupada e dos acaryas, poderiam ser postos de lado, pois o fim certo de quem nega (e ofende) o devoto puro é infinitamente pior do que o daqueles materialistas e ateus que abertamente defendem que Deus não passa de um simples conceito da mente.

 Nada pode ser pior do que dissimular, travestir-se de “devoto” para pregar que devotos (digo, devotos puros!) não mais existem.

Nenhuma destas concepções provém de Srila Prabhupada, do que ele mesmo, através dos seus exemplos e ensinamentos, como um acarya fidedigno que é na eterna linha de sucessão discipular da Sri Brahma Madhva-Gaudiya Sampradaya, ensina. Averiguando e entendendo a obra de Srila Prabhupada por completo, em contextualidade e considerando todas as suas partes, vemos que os exemplos e testemunhos textuais que ele deixou de forma alguma ferem a filosofia vaisnava.

Portanto, tomando a poeira dos pés de lótus de Srila Svami Prabhupada sobre nossas cabeças, devemos, só então desta forma, com toda a submissão, adentrar as instruções deste sad-guru. Aí sim, estaremos glorificando Srila Prabhupada, sem esta de querer estar no lugar dele, se apressando em dizer “sou representante de Srila Prabhupada”.



Começo por enumerar os argumentos destes assim auto-proclamados “rtviks”, que tentam estabelecer Srila Bhaktivedanta Svami Prabhupada como o último e único guru fidedigno. Depois, irei me dedicar a contra-argumentar tal falácia, apoiado nos Vedas e sastras vaisnavas, demostrando o quão insustentáveis são as concepções da “filosofia rtvik” acerca de guru-tattva e da verdadeira função e posição exaltada de uma sad-guru (guru fidedigno) como Srila Prabhupada.

Fundamentalmente, os rtviks se apóiam em duas argumentações pontuais, que eles apresentam ao público de maneira completamente descontextualizada, fragmentada e apelativa. Argumentações inconciliáveis com tudo o que dizem as escrituras, os vaisnavas históricos (os gosvamis e outros devotos puros em sucessão) e, inclusive, o conjunto e a essência da obra mesma de Srila Bhaktivedanta Svami Prabhupada.

A primeira argumentação, que eles consideram a mais forte sem dúvida, se baseia em uns poucos documentos de cunho formal/ administrativo, assinados por Srila Prabhupada, mas não necessariamente redigidos por ele, e umas falas pontuais espargidas aqui e ali em sua extensa obra. Segundo a interpretação rtvik, tais documentos e instruções de Srila Parbhupada apontariam claramente que ele, e somente ele – Srila Prabhupada –, deveria ser aceito agora e sempre como o único guru; e mais, Srila Prabhupada estaria indicando também que de agora em diante o “sistema ritvik” deveria prevalecer.

O principal destes documentos, na concepção rtvik, seria um documento que eles viriam chamar, apelativamente – posto que o documento não recebe originalmente este nome –, de “A ordem final”. Segundo o documento, Srila Svami Prabhupada estabelecia que onze de seus discípulos mais experientes estariam autorizados para agir em seu nome, como seus representantes diretos, ou rtiviks; e teriam estes representantes autonomia para dar a primeira e a segunda iniciação (diksa) em lugar de Srila Prabhupada, sendo que Srila Prabhupada permaneceria sendo diretamente o guru destes novos iniciados.


Nada há de espantoso, de fato nenhuma verdadeira novidade há no teor de tal documento. Aliás, tratam-se de ponderações completamente condizentes com o que dizem as escrituras, decisões pragmáticas de Srila Bhaktivedanta Svami Prabhupada quanto aos rumos de sua pregação àquela época.

 E naquele momento já havia uma percepção geral de que Srila Prabhupada visivelmente se preparava para partir deste mundo para a morada eterna transcendental, e, como uma grande acarya que era, Srila Prabhupada cuidava para continuar a garantir que a sua misericórdia não tivesse interrompido o fluxo.

 Literalmente, Srila Svami Prabhupada determinou em carta que alguns discípulos estavam autorizados a dar iniciação em seu nome, e que ele, Srila Prabhupada, seria, ainda, o guru destes recém iniciados, que o que ele dava era, em realidade, uma concessão, fazendo dos seus representantes ritviks (oficiantes autorizados dos sacrifícios e dos processos de iniciação em seu nome).

Ou seja, Srila Prabhupada estaria diretamente instruindo seus representantes sobre como proceder, ninguém estava liberado a agir por conta própria sem uma guiança direta de Srila Svami Prabhupada. Nunca houve uma ordem expressa de Srila Svami Prabhupada dizendo que com a sua partida o “sistema rtvik” deveria ser posto em funcionamento.

O “sistema rtvik” só funciona enquanto o guru estiver presente para instruir diretamente seus representantes, isto é o que dizem os Vedas, mas alguns parecem querer incutir a contradição entre o sadhu (Srila Prabhupada) e os Vedas.


Diz Srila Prabhupada:

"O conhecimento védico não é uma questão de investigação. Nossa investigação é imperfeita porque averiguamos as coisas com nossos sentidos imperfeitos. Temos que aceitar o conhecimento perfeito que é transmitido, como se afirma no Bhagavad-Gita , através do parampara, a sucessão discipular." (Bhagavad-gita Como Ele É, introdução).


"Não é o que significa: 'Bhaktivedanta Swami nos trouxe isso', eles dizem. Esta é a minha boa fortuna. Mas, de fato, eu sou apenas um peão. Eu trouxe, mas eu estou entregando sem nenhuma adulteração. Este deve ser meu crédito." (Srila Prabhupada, Detroit, 03/08/1975).
 

Sem nenhuma adulteração, este é o verdadeiro crédito de Srila Svami Maharaj (Srila Prabhupada), e ele enfatiza:

“Pode alguém perguntar se guru é absolutamente necessário. Os Vedas nos informam que sim (Mundaka Up. 1.2.12): tad vijnanartham... [de modo a adquirir o conhecimento perfeito (divino), a pessoa deve se aproximar de um guru com espírito de dedicação...]

“Os Vedas mandam que busquemos um guru; na realidade, eles dizem que busquemos o guru, não apenas um guru. Só há um guru porque este chega até nós por intermédio da sucessão discipular. (...). Apesar de centenas de milhares de acaryas terem ido e vindo, a mensagem é a mesma.” (Ciência da auto-realização p. 53).

E há muito mais, Srila Prabhupada também diz:

“Pode ser que o guru seja esta pessoa ou aquela, mas a mensagem é a mesma; é por isto que se diz que só existe um guru.” (Idem).

Ou seja, Srila Prabhupada é uno com os outros gurus, pois guru é um princípio eterno e universalmente válido. Ele também diz na página 54 deste mesmo livro: “Um guru não pode alterar a mensagem da sucessão discipular.” Também encontramos no livro Ensinamentos do Senhor Kapila:

“Todos os sastras nos aconselham nos aconselham a que nos associemos com um sadhu. (...). Por isso, começamos este movimento da consciência de Krsna para criar uma associação de sadhus [no plural!], onde as pessoas possam se beneficiar e assim alcançar a liberação.”



Em argumentação lógica e histórica, fica comprovado que rtvik é um sistema genuíno quando existe a figura do guru presente, instruindo e observando as ações dos seus representantes. Não é que agora, que Srila Prabhupada não está mais aqui “de corpo presente”, que pessoas desqualificadas podem assumir para si a posição de Srila Prabhupada, falando em seu lugar. O acarya fala por si mesmo, uma pessoa desqualificada nunca pode falar em seu lugar! Também não é porque os tais “rtviks” são desqualificados que todos os outros devotos também assim devam ser vistos. Isto é cego guiando cego, é cego fazendo dos outros cegos também.

Nem Srila Prabhupada deixou expressamente documentado – e reitero que assim ele nunca o faria, posto que é completamente absurdo do ponto de vista das escrituras –, que o “sistema rtvik” devesse ser adotado e todo o sistema tradicional de guru-parampara a partir dele (Srila Prabhupada) rejeitado. Creio que uma determinação desta magnitude mereceria uma ordem expressa de Srila Svami Prabhupada, o que de fato nunca aconteceu.

Os rtviks afirmam Srila Svami Prabhupada como o único diksa-guru (guru iniciador), não aceitando a proeminência de siksa-guru (guru-instrutor), sendo fato irrefutável que o guru-parampara do vaisnavismo gaudiya, na linha de Sri Caitanya Mahprabhu – mesmo não havendo uma diferença fundamental entre guru iniciador e guru instrutor –, é uma sucessão que segue o fluxo de siksa (instrução). Ou seja, estes rtviks tomam para si a proeminência que é dos vaisnavas, e pretensamente se põem a instruir sobre o que não sabem, pois não têm a menor realização do que dizem.

Muito mais do que em lógica, a defesa da eternidade do guru-parampara deve se basear naquela que para nós é – ou pelo menos deveria ser – a única argumentação válida: os Vedas e as escrituras vaisnavas. E aqui podemos falar, agora, do outro ponto sobre o qual os “rtviks” se apóiam.

Em especulação vã, rtviks escrutinam apressadamente os vedas atrás de recortes para justificar o injustificado e fazem destes recortes descontextualizados o próprio veredicto. Interessante que, neste ponto, a própria ISKCON/ GBC, com quem os rtviks rivalizam, tenha dado uma série de argumentações falaciosas que terminaram por dar, contraditoriamente, sustentação à tese dos rtviks. Para dar um único exemplo, pelo menos um dos que eles buscam assentar diretamente nas escrituras védicas, cito o verso que estes rtviks tanto gostam de repetir, mas cuja tradução que fazem é muito questionável.


Trata-se do seguinte verso do Brahma-vaivarta Purana:
 man-mantropasakasparshad / bhasmibhutani tatkshanat
bhavishyanti darsanacca / snanadeva hi jahnavi.


 Verso este que entre alguns devotos da ISKCON, para a felicidade dos “rtviks”, é traduzido algo como: “o Meu mantra upasaka (adorador do santo nome) vai aparecer neste mundo e difundir o canto do Meu santo nome em toda parte”.

 Sendo que a interpretação que dão é que este mantra-upasaka é Srila Prabhupada; e, ainda mais, há mesmo os que defendem que este verso por si só seria efetivamente suficiente para dizer que Srila Prabhupada é “o guru” e mais nenhum outro pode ser.

Acontece que este verso tem uma outra tradução bem mais condizente, que é a seguinte: “Simplesmente pelo olhar ou toque dos que me adoram através dos Santos Nomes (mantra upasaka), todos os pecados de uma pessoa serão queimados de uma vez”. E em muitos comentários a este verso é dito que, se existe um único mantro-upasaka nesta era de Kali, este é Caitanya Mahaprabhu.

 Ou seja, muito especulam sobre pouquíssimas e inconclusivas evidências.



Para finalizar, como o que realmente importa conhecer sempre é o que emana da boca de lótus dos vaisnavas fidedignos, cito aqui passagens de três diferentes acaryas vaisnavas. Neles me refugio e aos seus pés ponho o que até aqui escrevi, orando para que se satisfaçam com este meu serviço e o aceitem, desfazendo, através de seus ensinamentos fidedignos, tudo o que por certo este meu texto carrega de imperfeições.

Primeiro, cito de Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada, diksa e siksa guru de Srila Bhaktivedanta Svami Prabhupa, esta afirmação sucinta que se segue:

“Nós temos que ouvir sobre a Suprema Personalidade de Deus de alguém que seja o seu próprio agente. (...) Quando nós ouvirmos de um sadhu vivo, que pode falar sobre estes tópicos audaciosamente, de uma forma vívida e inspiradora, então todas as fraquezas desaparecerão do nosso coração.”
(do livro: Saraswati Thakura, The Life and Precepts of Srila Bhaktisiddhanta Saraswati).


Também é esclarecedor o que diz Srila Gour Govinda Maharaja, reconhecidamente o mais proeminente discípulo de Srila Prabhupada, respeitado e glorificado por toda a família Gaudiya Vaisnava Sampradaya, que assim explica em uma conversa que ficou registrada no livro The Process of Inquiry:[

Srila Goura Govinda: (...) Você ouve o que diz Srila Prabhupada? Ele está falando com você?

Devoto: Através dos livros dele.

Srila Goura Govinda: Através dos seus livros, sim. Todos os sadhus falam através dos seus livros. Jiva Goswami, Rupa Goswami, Sanatana Goswami, Bhaktivinode Thakur, Bhaktisiddhanta Saraswati e Srila Prabhupada, todos eles falam através dos seus livros. Isto não é algo novo. (...). Você não pode entender o que eles dizem simplesmente por ler os seus livros. (...).

Devoto: Então nós devemos nos associar com um saddhu vivo [presente]?

Srila Goura Govinda: Definitivamente. Sempre haverá um saddhu disponível. Mas não se trata de uma pessoa barata. Tal pessoa é muito rara. Se você puder obter a misericórdia dele então irá vê-lo.

Guru é a manifestação da Superalma, o caitya-guru em nosso coração. Ele então manifesta seu corpo e aparece [e aí nos instrui].



Mais uma vez, cito Srila Goura, agora em uma bela passagem do seu tão glorificado livro “Matura Meets Vrndava”:

“O Brhan Naradiya Purana (4.33) descreve: bhaktis tu bhagavad-bhakta sangena parijayate. ‘Pela associação com premi bhaktas a pessoa desenvolve bhakti’. Não é que não hajam sadhus disponíveis aqui [neste mundo material]. (...). A pessoa não pode dizer: ‘Oh, não há sadhus disponíveis. Eu não vejo alguém que seja sadhu’. Você é que não tem visão para ver um sadhu! Os sadhus estão aí, de outra forma como poderia o mundo de Krsna se desdobrar? Suddha-bhaktas, devotos puros, são o bhusana, são os ornamentos deste mundo.”

Também cito Srila Bhaktivedanta Narayana Gosvami Maharaja, oficiante do fogo sacrificial da cerimônia de sanyasa de Srila Prabhupada, amigo e confidente com o qual Srila Prabhupada manteve relacionamento até os seus últimos momentos de vida, guru-vaisnava reconhecidamente autêntico, esclarece o que os Vedas dizem sobre “rtvik”: “Aqueles que são os oficiantes dos sacrifícios e que o fazem em concordância com os mantras védicos são chamados de rtviks.” (The True conception of Sri Guru-Tattva).


Tais rtviks, estes sim autorizados pelos Vedas, são descritos em número de 16, conforme evidência irrefutável do Ramayana, Mahabhara e Srimad-Bhagavatam. Em todas essas escrituras, a palavra rtvik aparece associada à realização de sacrifícios, mas nunca estes rtviks têm o poder de conduzir alguém à meta última, transcendental. Srila Bhaktivedanta Narayana Maharaja é direto e esclarecedor:

“Na presente era de Kali muitas pessoas se irritam simplesmente por ouvir a palavra ‘guru’, por verem as condutas impróprias, atividades que são completamente contrárias aos princípios de Bhakti, e a conseqüente queda destes assim chamados ‘gurus’. Portanto, no momento atual algumas pessoas expõem a idéia de que Srila Bhaktivedanta Svami Maharaja [Srila Prabhupada] foi o último sad-guru [guru fidedigno], e que depois do desaparecimento dele não há mais sad-guru presente neste mundo, e que nem haverá um no futuro. Portanto, depois do seu desaparecimento não mais há qualquer necessidade de alguém aceitar um guru vivo, porque rtviks irão dar continuidade ao sisya parampara (sucessão discipular) e darão diksa por intermédio de gravações em cassetes com a sua própria voz [de Srila Prabhupada] cantando os gayatri-mantras.”

“Tal concepção é completamente especulativa e é contrária às injunções das escrituras.” (Idem).

Fechando, o veredicto da autoridade máxima de Sri Caitanya Mahaprabhu, que instrui enfaticamente no Sri Caitanya-caritamrta (Madhya-lila 22.54):

sadhu-sanga sadhu-sanga sarva-satre kaya
/ lavra-matra sadhu-sanga sarva-siddhi haya

“O veredicto de todas as escrituras reveladas é que através, mesmo que seja por um momento ínfimo, da associação de um sadhu, devoto puro, a pessoa pode atingir a completa perfeição espiritual”.

Srila Naraya Maharaja: A pessoa deve cultivar o seguinte humor: ‘Se eu não ouvir hari-katha em sadhu-sanga, meu coração irá secar, minha vida será intolerável’. (Sri Slokamrtam).



Apelo aos leitores que procurem averiguar de maneira cuidadosa tudo o que aqui foi dito, guru-tattva traz o maior benefício que podemos almejar para a nossa vida espiritual. Por certo que enquanto este mundo material se desenrolar muitos ofensores, pessoas que querem roubar a posição do guru, ou mesmo falsos gurus, irão se arvorar no ataque aos verdadeiros e santos gurus vaisnavas.

 Isto será inevitável. Nesta era de Kali, estes agentes, falsos devotos iludidos e/ ou travestidos de “áurea” devocional, irão operar disseminando a influência malévola típica da era.

Isto tudo ocorre independentemente de vontade. Tudo faz parte de uma providência, posto que Bhagavan Sri Krsna está no controle, e Ele fez arranjos inexcrutáveis de modo a dar a cada o fruto das suas próprias ações.

Apenas faço deste texto uma oferenda aos pés de lótus dos vaisnavas e de todo o guru-parampara, me reportando a, especialmente, dois dos 64 angas de Bhakti, de modo que assim justifico a impertinência de ter redigido este texto:

guru krsna bhakta-ninda-sahana-tyagah:
“Não se deve tolerar blasfêmia contra Sri Guru, Sri Krsna ou os devotos”.

vaisnava-sastra-seva: “Servir as escrituras vaisnavas. Restaurar, propagar, e defender as escrituras das especulações e ofensas”.


Todas as glórias ao casal divino Sri Sri Radha-Krsna!
Todas as glórias a Sri Krsna Caitanya!
Todas as glórias a Prabhu Nitiananda! AO forma guru original em sua manifestação indivisa.

Todas as glórias aos Vaisnavas e guru-parampara!
Todas as glórias a Srila Bhaktivedanta Svami Prabhupada!
Srila Gurudeva ki jaya! Bhaktivedanta Narayana Maharaja ki jaya!
A todos peço que aceitem os meus respeitos e as minhas singelas reverências.

Mangala Nilay das
Rio de Janeiro, 11 de maio de 2009.

*Aos que quiserem manter contato ou maiores esclarecimentos, email: mangalanilay@ig.com.br
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