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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Guru Tattva

,
enviado e traduzido por : Baladeva Dasa Bhahmachari


Primeira parte – Guru Tattva


do livro : Pinnacle of devotion

Capítulo 1

As glórias de Sadhu Sanga




Hari Katha : SRILA BHAKTIVEDANTA NARAYANA GOSVAMI MAHARAJA

Venha comigo á Vrindavana. Aqui, na solitária atmosfera do templo de Radha Damodara em Seva-kunja, Krishna das Kaviraja Goswami costumava escrever seus livros. Seva kunja é um lugar para a perfeição (siddha sthali), porque Krishna costumava vir aqui servir Srimat Radhika. Aqui ele desfrutou de seus passatempos transcendentais, e aqui também encontramos as poeiras dos pés de lótus das gopis. Krishna também serviu Srimat Radhika em Vamsivata e Nidhuvana. Nestes lugares, Sri Krishna, Radhika e as gopis são controlados pelo amor personificado. Não aspiramos obter Krishna, e sim amor por Ele. Kamsa, Jarasandha, Sisupala e outros demônios também queriam Krishna, mas não tinham amor ou afeto por Ele.


Krsna, guru, bhakta, sakti, avatara, prakasa

Krsna ei chaya-rupe karena vilasa


“O Senhor Krishna desfruta em sua própria forma, na forma dos mestres espirituais, dos devotos, das diversas energias, das encarnações e porções plenárias. Todos eles são seis em um.”


(Caitanya Caritamrta Adi 1.32)


Srila Krishna das Kaviraja Goswami explica aquí que Sri Krishna se manifesta neste mundo de seis formas: como o próprio Krishna, como dois tipos de mestre espiritual, como seus devotos, como suas energias, como suas encarnações e como suas porções plenárias. Para entender as manifestações de Krishna, é preciso esclarecer alguns conceitos.

Em um dos primeiros versos do Sri Caitanya Caritamrta, Srila Krishna das Kaviraja diz:


“Antes de tudo, ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de lótus do meu mestre espiritual iniciador e também aos pés de lótus de todos os meus mestres espirituais instrutores.”


Mantra guru indica o mestre espiritual iniciador, o que concede o gayatri mantra. O mestre espiritual instrutor (siksa guru) nos ensina como devemos servir Sri Krishna, quem somos, o que é devoção (Bhakti), qual é a realidade sobre a entidade viva e como a alma condicionada pode alcançar a perfeição em bhakti.

No Bhakti-rasamrta-sindhu, Srila Rupa Goswami declara:


Anyabhilasita-sunyam jnana-karmadi-anavrtam

Anukulyena krsnanu-silanam bhaktir-uttama


“Serviço devocional puro é executado com amor e afeição, adotando tudo que é favorável e rejeitando tudo que é desfavorável á bhakti. Tal serviço não deve ser mesclado com atividades fruitivas ou especulações filosóficas.”


A pessoa que deseja devoção pura deve lembrar e recitar este verso todos os dias e tentar compreender seu significado. Esta prática é denominada sadhana-bhakti. Quando praticada através dos sentidos culminando na manifestação de sentimentos espirituais, é chamada de bhava-bhakti, e quando aprofunda ainda mais se converte em prema-bhakti. Dependendo do nível de cada devoto, pratica-se um destes níveis de bhakti. Um mestre espiritual que não experimenta sadhana-bhakti, bhava-bhakti e prema-bhakti não pode dar devoção, mesmo que externamente pareça um guru. Isto é dito não apenas no Srimad Bhagavatam, mas também nos Upanisads e no Caitanya Caritamrta. Devemos entender o seguinte princípio:


Tasmad gurum prapadyeta

Jijnasuh sreya uttamam

Sabde pare ca nisnatam

Brahmany upasamasrayam


Toda pessoa que deseja sinceramente a verdadeira felicidade, deve buscar por um mestre espiritual fidedigno e refugiar-se nele através da iniciação. O mestre espiritual deve ter compreensão das conclusões filosóficas das escrituras através da reflexão e deve ter a capacidade de convencer outros destas conclusões. Estas grandes personalidades, que se refugiaram no Senhor Supremo e abandonaram toda consideração material, são mestres espirituais genuínos. (Srimad Bhagavatam 11.3.21)


Para alcançar a verdadeira devoção (bhakti) por Sri Krishna, ser verdadeiramente feliz e compreender quem são e como podem avançar nesta vida, devem dirigir-se á uma alma auto realizada escutar dele as conclusões sástricas. Tal mestre certamente os ajudará.

Pode-se distinguir três sintomas em um mestre espiritual fidedigno. O primeiro é sabde. Sabde quer dizer que seu conhecimento dos Vedas, Upanisads, Srimad Bhagavatam etc... é perfeito. Mesmo assim, este conhecimento das escrituras e a habilidade de argumentar baseando-se neles são insuficientes para dizer que tal pessoa é um guru fidedigno. Se esta pessoa não experimenta Krishna, não está absorta em bhajana e sua bhakti não está muito desenvolvida, então não é um guru.

O segundo sintoma é que ele está desapegado dos desejos mundanos. Estes primeiros dois sintomas são externos. O sintoma interno de um mestre espiritual genuíno é pare ca nisnatam brahmany. Parambrahman é Krishna. O guru deve ter uma compreensão interna disto, porque se não poderá cair de sua posição. Deve estar absorto em bhajana, porque o conhecimento dos argumentos das escrituras não é suficiente para se previnir de uma eventual queda. Pode ser que alguém conheça todos os argumentos para fundamentar os pontos de vista das escrituras e algumas vezes pratica serviço devocional, mas se não está desapegado de seus desejos e dos objetos materiais, ele cairá. A queda do mestre espiritual é algo muito sério que afetará o discípulo durante toda sua vida. Devemos por tanto, ser muito cuidadosos associando com devotos que não podem cair. O que Swamiji escreveu sobre isto? Escutem com atenção, pois é muito importante:


Devoto: “Antes de mais nada, ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de lótus do meu mestre espiritual iniciador e de todos meus mestres espirituais instrutores.”


Significado – “Em suas teses no Sri Bhakti-sandarbha (202), Srila Jiva Goswami declara que o objetivo dos vaishnavas é o serviço devocional puro, e que se deve executa-lo na associação com outros devotos. Por associar-se com os devotos do Senhor Krishna, a pessoa desenvolve um tipo especial de consciência que lhe faz ficar atraída pelo serviço amoroso ao Senhor. Tal é o processo de se aproximar do Senhor Supremo pela apreciação gradual do serviço devocional. Se alguém deseja serviço devocional puro, deve associar-se com devotos. (Cc. Adi 1.35)”


Srila Narayana Maharaja: Sim. Reflitam profundamente sobre isto. Se vocês realmente desejam serviço devocional puro, devem procurar a associação com vaishnavas. De outro modo, terão asat-sanga, associação com materialistas. Sigam a linha de pensamento de Srila Swami Maharaja, tal como eu faço. Se alguém diz que não estou nessa mesma linha, ela mesma é que não está. Eu jamais digo algo diferente de Sri Chaitanya Mahaprabhu e Swamiji.


Se desejam serviço devocional puro por Krishna, devem seguir de forma resoluta as diretrizes e instruções que foram mencionadas. Se, ao invés disso, eles preferem ganhar dinheiro e pensam que a associação com um vaishnava elevado é um obstáculo para suas aspirações, não se sentirão inclinados á seguirem suas instruções. Se querem ser como Prahlada Maharaja, devem meditar muito nas afirmações dos significados de Swamiji. Agora, lê de novo a última frase e depois siga adiante.



Devoto: Se alguém deseja serviço devocional puro, deve associar-se com devotos de Krishna. Apenas através desta associação, a alma condicionada pode desenvolver gosto pelo amor transcendental e assim reviver sua relação eterna com Deus, com uma manifestação específica e com uma doçura de rasa transcendental particular que cada pessoa tem inerente em seu coração.



Srila Narayana Maharaja: Se vocês seguem esta instrução de associar-se com devotos puros, Sri Krishna fornecerá tudo á vocês. Não tenham medo. Krishna criou vocês. Ele é o controlador Supremo, de modo que vocês não devem ter medo. Se alguém segue esta instrução, Krishna tomará conta de tudo e todos os seus problemas serão resolvidos.

Se desejam serviço devocional puro á Krishna, sejam fortes e determinados, e associem-se com vaishnavas elevados. Esta recomendação é tão importante que é dita três vezes:


Sadhu sanga sadhu sanga sarva sastre kaya

Lava matra sadhu sanga sarva siddhi haya


O veredito de todas as escrituras reveladas é que a associação com um devoto puro, mesmo que só por um instante, pode-se alcançar o êxito completo na vida espiritual.


(Cc. Madhya 22.54)


O que este verso quer dizer? Que o serviço devocional puro pode ser obtido apenas com associação de devotos puros (sadhu sanga), e que esta instrução é nosso primeiro dever. Siga.


Devoto: O segredo desta instrução é que se deve escutar submissamente da boca daqueles que conhecem perfeitamente a ciência de Deus e prestar o serviço indicado pelo mestre espiritual. O devoto que já se sente atraído pelo nome, forma, qualidades, etc.. do Senhor Supremo, pode ser guiado até a prática do serviço devocional segundo um sentimento específico; não é necessário que perca tempo tentando chegar á Deus através da lógica.


Srila Narayana Maharaja: Sim. Não tentem alcançar Krishna através da lógica. A lógica por si só é insuficiente. Só é aceitável quando se trata da lógica relacionada ás escrituras como o Srimad Bhagavatam, o Sri Caitanya Caritamrta, e que está relacionada com a devoção, de outro modo ela não é aceitável.


Devoto: O mestre espiritual é expert em ocupar o discípulo no serviço amoroso e transcendental ao Senhor, de acordo com sua tendência específica.


Srila Narayana Maharaja: Um dos sintomas do mestre espiritual genuíno (tanto o instrutor quanto o iniciador) é que cada um dos seus discípulos sentem um afeto tão profundo por ele, que pensam que seu guru o ama mais que todo mundo. Na presença do guru, todos os vaishnavas, mesmo que não sejam seus discípulos diretos, sentem que este guru o ama que todos os outros. Vi esta qualidade em meu Guru Maharaja e em Swamiji, e penso que muitos discípulos de Swamiji também experimentaram isto.

Os discípulos de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada nos contaram que todo mundo, dos meninos até os adultos, todos pensavam: “Meu Guru Maharaja me ama muito.” Os discípulos experimentam isto no guru genuíno porque ele não deseja obter nada material deles. A única coisa que ele quer é residir em seus corações e injetar-lhes Krishna-prema. E se ele mesmo não experimenta Krishna-prema, é impossível que transmita á outros. O guru nunca toma o coração do discípulo como sendo sua propriedade, mas o suaviza e o torna doce para oferece-lo ao casal divino Sri Sri Radha Krishna. Primeiro, o discípulo oferece seu coração aos pés de lótus de seu amado guru, até que um dia este guru o situará nos pés de lótus de Rupa manjari. Ele o colocará nas mãos de Lalita e Visakha, e elas por sua vez o levará aos pés de lótus de Srimati Radhika. Então, Srimati Radhika qualificará esta pessoa para servir Krishna e ela mesma.

Se um mestre espiritual não possui estas características, o discípulo deve pedir-lhe humildemente que lhe permita associar-se com uma alma elevada. Sem inveja, e admitindo que ele não pode satisfazer seu discípulo, este mestre o aconselhará á se refugiar em vaishnavas do calibre de Srila Jiva Goswami, Srila Rupa Goswami e Narottama das Thakura. Ele não importará que seu discípulo se refugie em um vaishnava superior. Um guru alto realizado (sad-guru) não deseja ganâncias materiais. Syamananda Prabhu recebeu instruções de seu diksa guru Hrdaya Caitanya para que fosse até seva-kunja (Vrindavana) e se refugiasse nos pés de lótus de Srila Jiva Goswami. “Ele irá te preparar para servir Sri Sri Radha Krishna”. Srila Jiva Goswami aparentemente não tinha discípulos, mas na realidade ele instruiu todos os habitantes da terra. Este é o sintoma do mestre espiritual autêntico.


Devoto: O devoto deve ter apenas um mestre espiritual iniciador, as escrituras proíbem aceitar mais de um, mas não há limite quanto ao número de mestres instrutores que se pode aceitar. No geral, um mestre espiritual que está sempre instruindo um discípulo na ciência espiritual, com o tempo se torna seu mestre iniciador.

Deve-se recordar sempre que quem se nega á aceitar um mestre espiritual e á ser iniciado, se tornará totalmente frustrado em seus esforços para relacionar-se com Deus. Se alguém que não é devidamente iniciado se apresenta como um grande devoto, encontrará muitos e muitos obstáculos no seu caminho rumo á compreensão espiritual e finalmente, deverá continuar sua existência na vida material sem nenhum alívio. Se alguém possui o desejo de receber a benção de Sri Krishna, deve aceitar um mestre espiritual fidedigno.

Se um devoto não tem a oportunidade de servir seu mestre espiritual diretamente, deve servi-lo lembrando seus passatempos. Não há nenhuma diferença entre seus passatempos e sua pessoa. Por tanto, na sua ausência, suas palavras e instruções devem ser o orgulho do discípulo. Se alguém pensa que não precisa se consultar com ninguém, incluindo um mestre espiritual, é um ofensor do Senhor e nunca voltará para Deus. Um aspirante sério deve aceitar um mestre espiritual seguindo as normas das escrituras. Srila Jiva Goswami aconselha á não se aceitar um mestre espiritual baseando-se em critérios hereditários, costumistas, sociais ou eclesiáticos. Para que haja um real avanço na compreensão espiritual, deve-se apenas encontrar um mestre espiritual que está verdadeiramente capacitado para tal.


Srila Narayana Maharaja: Podemos ver que Swamiji é um seguidor de Jiva Goswami. É muito difícil ter um guru tão elevado. É excepcional. Se por algum crédito piedoso aceitamos até mesmo um mestre espiritual neófito, através de algumas impressões criadas no nosso coração, em nossa próxima vida estaremos aptos á conhecer um guru genuíno. Como vamos descobrir se é um guru fidedigno? Rendendo-se aos pés de lótus do caitya-guru (Krishna, situado no coração) e orando á Ele. Ele reside no nosso coração e escutará nossa prece. Se alguém ora dizendo: “Ó Krishna! Desejo de coração ser teu servo. Por favor, conduza-me até os pés de lótus de um guru genuíno.” Sem dúvida, Krishna arranjará tudo. E aqueles que não oram desta maneira, acreditando e confiando na própria capacidade para eleger e examinar um guru, com certeza vai ter problemas na sua vida espiritual. Krishna diz:


Sarva-dharman parityajya

Mam ekam saranam vraja

Aham tvam sarva-papebhyo

Moksayisyami ma sucah


Abandona toda classe de religião e apenas rende-te á min. Eu te libertarei de todas as reações pecaminosas. Não temas.

(Bg.18.66)


Quando uma pessoa se rende sinceramente sem buscar por ganâncias materiais, Krishna arranja tudo pra que ele encontre um mestre espiritual. Se o aspirante comporta desta forma, receberá facilmente a misericórdia deste excepcional guru. Tudo depende de Krishna. Neste mundo é muito difícil encontrar um mestre espiritual genuíno, mas as escrituras dizem que é ainda mais difícil encontrar um discípulo genuíno capaz de se entregar completamente , tal como fizeram Arjuna ou Sudama Vipra com Krishna. Os Vedas, Upanisads e Puranas citam numerosos exemplos do guru ideal e do discípulo ideal. O exemplo mais elevado de rendição absoluta aos pés de lótus de Srila Rupa Goswami e Srila Sanatana é Srila Jiva Goswami. Quem é o mestre espiritual de Srila Sanatana Goswami e de Srila Rupa Goswami? Srila Rupa Goswami ora á Sri Caitanya Mahaprabhu na invocação auspiciosa (mangalacharana) em cada um dos seus livros, mas quando foi que Sri Caitanya Mahaprabhu iniciou Rupa e Sanatana Goswami? Temos dados ou lembranças de que foi celebrada algum sacrifício de fogo para suas iniciações ou de que eles ganharam algum mantra?

Sri Caitanya Mahaprabhu depositou tudo em seus corações, e eles também o aceitaram como seu guru em seus corações. Isto é muito importante, seguir Sri Gurudeva interna e externamente. Se entregamos nosso coração de forma natural aos pés de lótus de um vaishnava, significa que ele é nosso guru, tanto se nos dá mantras e faz um sacrifício de fogo, quanto se não faz nada disto. Estas coisas são externas e não são tão importantes como a rendição do coração. Srila Jiva Goswami deu vários exemplos disto em seus livros.

Há duas classes de discípulos, consequentemente há dois tipos de iniciação (diksa). Uma está relacionada com a formalidade externa de realizar a cerimônia de fogo e dar os mantras gayatri. Mas não se deve pensar: “Me sacrifiquei muito. Raspei a cabeça e recebi meus mantras, então já fui iniciado.” Isto é apenas um aspecto externo. A iniciação formal é essencial, mas não é completa sem a iniciação interna na qual o discípulo entrega por completo seu coração aos pés de lótus de seu Guru sabendo que ele o capacitará á servir Sri Sri Radha e Krishna.

O mestre espiritual dá ao discípulo todo o conhecimento transcendental (divya- jnana) referente á Verdade Absoluta (Krishna- tattva), ao mestre espiritual (Guru- tattva) e ao amor puro por Krishna (Prema-tattva), e também ensina o que é a energia ilusória (maya), na qual vemos o homem e a mulher como objetos de desfrute sensorial. Tal visão tem causado infinitos problemas nos matrimônios, sobre tudo nos países ocidentais. As pessoas se casam e divorciam várias vezes sem pensar em nenhum momento nos filhos. Matrimônio significa que o homem e a mulher devem permanecer juntos toda vida, os pequenos problemas não devem ser a causa do divórcio. O mestre espiritual instrui seus seguidores sobre o que fazer para desenvolver sua consciência de Krishna e lhes ensina a não ser apegados nem desapegados, sempre vendo á si próprio, filhos e esposa, como sendo servos de Krishna. O guru nos diz como devemos praticar bhakti e desenvolver nosso respeito, afeto e serviço á Krishna. Isto é divya-jnana. Por outro lado, Sri Guru destrói todas as nossas reações pecaminosas:


Divyam jnanam yato dadyat

Kuryat papasya sanksayam

Tasmat dikseti sa prokta

Desikais tattva-kovidaih


Kuryat papasya sanksayam. A vida material não é mais que um acúmulo de problemas derivados do apego ás coisas mundanas. Na vida material a pessoa considera-se a desfrutadora e está cheia de luxúria, ira, cobiça, loucura, ilusão e inveja. Gurudeva destrói as quatro etapas do pecado.


1- Prarabdha é o karma que deu fruto. Reações aos atos prévios que são a causa do sofrimento atual.

2- Kuta bija são pecados que não foram cometidos ainda, mas o coração tem a tendência de comete-los.

3- Aprarabdha são as reações que frutificarão no nosso próximo corpo

4- Avidya é a ignorância que faz com que uma pessoa tenha inveja de Krishna e se considera a desfrutadora. Esta é a raiz de todos os problemas.


Se nosso diksa-guru não está capacitado para fazer isto por nós, devemos aceitar um siksa-guru mais avançado. Orem á Krishna e á Sri Gurudeva para que lhes ajudem a resolver seus problemas. Um guru genuíno lhes aconselhará a se refugiarem em vaishnavas avançados do calibre de Srila Jiva e Rupa Goswami e Narottama das Thakur. Se o guru sentir inveja dos discípulos que se associam com um siksa-guru, ou tem alguma oposição aos vaishnavas, o discípulo deve abandona-lo.


Sri-rupa, sanatana, bhatta-raghunatha

Sri jiva, gopala-bhatta, dasa-raghunatha

Ei chaya guru-siksa-guru ye amara

Tan sabará pada-padme koti namaskara


Os mestres espirituais instrutores são Srila Rupa Goswami, Srila Sanatana Goswami, Srila Bhatta Raghunatha Goswami, Srila Jiva Goswami, Srila Gopala Bhatta Goswami e Srila Raghunatha Das Goswami. Estes são meus seis mestres espirituais instrutores e assim sendo, ofereço milhões de respeitosas reverências aos seus pés de lótus.

(C.c. Adi 1.36-37)



Srila Krsnadas Kaviraja Goswami ora em primeiro lugar aos seus siksa-gurus. Nesta parte do Sri Caitanya Caritamrta ele explica muitas coisas sobre guru-tattva. Quem são seus siksa-gurus? Srila Rupa Goswami , Srila Sanatana Goswami, Srila Jiva Goswami, Srila Gopala Bhatta Goswami, Srila Raghunatha Bhatta Goswami e Srila Raghunatha Das Goswami. Aqui há algo que devemos considerar. Srila Krsna das Kaviraja não menciona o nome de seu diksa-guru. Ele tomou siksa diretamente de Rupa Goswami e de Raghunatha das Goswami e no final de cada capítulo ele oferece especiais reverências á eles. Alguns dizem que seu diksa-guru é Raghunatha Bhatta Goswami, mas eu não vi nenhuma prova de que isto esteja certo. Em nenhuma escritura li nada sobre a idêntidade de seu diksa-guru. Minha opinião é que ele tomou diksa quando ainda estava casado e foi viver em Vrindavana. Sem diksa, ele não poderia receber o nome “Krishnadasa”. Pelo motivo que seja, ele não revelou o nome de seu diksa-guru, se não que nomeou os seis Goswamis associados de Mahaprabhu como seus siksa-gurus. Em vraja-lila, a forma de Srila Rupa Goswami é Rupa Manjari, Srila Sanatana Goswami é Labanga Manjari, Srila Raghunatha Bhatta Goswami é Raga Manjari, Srila Jiva Goswami é Vilasa Manjari, Srila Gopala Bhatta é Guna Manjari e Srila Raghunatha Dasa é Rati Manjari. Todos eles tem duas formas eternas, uma como associado de Krishna e outra como associado de Sri Chaitanya Mahaprabhu.

O discípulo que tem uma associação direta com um siksa-guru genuíno, sem dúvida alguma se torna um discípulo genuíno. Srila Krishnadasa Kaviraja se sente orgulhoso de ser discípulo dos seis Goswamis. Tan sabará pada padme koti namaskara. Ele oferece inumeráveis reverências aos seus pés de lótus e ora á devotos como Srivasa Pandita, que nos passatempos de Krishna é Narada Muni.


Bhagavanera bhakta yate srivasadi pradhana

Tan sabará pada-padme sahasra pranama


Entre os inumeráveis devotos do Senhor, Srivasa Thakura é o principal. Ofereço milhões de respeitosas reverências á seus pés de lótus.

(Cc.Adi 1.38)


Existem duas classes de devotos: as almas auto realizadas e aqueles que praticam sadhana (sadhakas). Na sua vida anterior, Narada havia sido um sadhaka-bhakta, e logo se tornou um bhakta auto realizado (premi bhakta). Aqui, Srila Krishna das Kaviraja Goswami refere-se á todos os bhaktas auto realizados: Svarupa Damodara, Ray Ramananda, Sikhi Mahiti, Madhavi-devi, Sarvabhauma Bhattacharya, etc. Há também os seis siksa-gurus proeminentes (os seis Goswamis) e todos eles são bhaktas auto realizados. Há também, as manifestações diretas do Senhor Supremo: Sri Advaita Acharya é a encarnação plenária de Maha-Vishnu e Sri Nityananda Prabhu é svarupa prakasa. Sri Gadadhara Pandita e Sri Jagadananda Pandita (os quais são Srimati Radhika e Srimati Satyabhama respectivamente) são saktis. “Por que então, Gadadhara Pandita tinha uma atitude tão respeitável e humilde para com Sri Chaitanya Mahaprabhu?” Além do mais, Ele era Srimati Radhika, a principal dentre as gopis que expressam livremente sua ira transcendental para com Krishna. A resposta é que Krishna, na forma de Sriman Mahaprabhu, roubou os sentimentos e a cor de Srimati Radhika, e Gadadhara Pandita simplesmente observava como mestre, para ter certeza de que Mahaprabhu desempenhava o papel de Srimati Radhika corretamente. Se Krishna, na forma de Sri Chaitanya Mahaprabhu, cometia algum erro, Sri Gadadhara Pandita lhe corrigia. Por exemplo, quando Sri Chaitanya Mahaprabhu encontrou-se pela primeira vez com Sri Nityananda Prabhu na casa de Nandanandanacharya, Sriman Mahaprabhu recitou chorando o seguinte verso do décimo canto do Srimad Bhagavatam:


Barhapidam nata-vara-vapuh karnakayoh karnikaram

Bibhrad vasah kanaka-kapisam vaijayantim ca malam

Randhran venor adhara-sudhayapurayan gopa-vrndair

Vrndaranyamsva-pada-ramanam pravisad gita-kirtih


As gopis começaram a ver Krishna dentro de suas mentes. Acompanhado de seus amigos pastorzinhos, Krishna entrou no encantador bosque de Vrindavana. Sua cabeça estava decorada com uma pena de pavão real, tinha flores karnikaras amarelas sobre suas orelhas, roupas amarelas cobriam seu corpo, e ao redor de seu pescoço estava uma charmosa e fragrante guirlanda vaijayanti. Sri Krishna mostrava seu aspecto supramente cativante como o melhor dos bailarinos. Com seus lábios nectários, tocava docemente sua flauta. Os pastorzinhos lhe seguiam cantando suas glórias, as quais purificam o mundo inteiro. Devido ás charmosas marcas deixadas por seus pés de lótus, o bosque de Vrindavana manifestou um esplendor ainda maior que Vaikuntha. (Bhag. 10.21.5)


Sri Chaitanya Mahaprabhu descreveu a charmosa forma de Krishna, mas não pôde atuar da mesma forma que Srimati Radhika, quando ela recitou este mesmo verso. Foi por isto que quem recitou este verso por detrás da cortina, foi Gadadhara Pandit. Com os olhos cheios de lágrimas, ele interpretou o papel de Srimati Radhika de tal forma que derreteu o coração de todos. Sriman Mahaprabhu, que fazia então, o papel de Sri Radhika, compreendeu então que não havia interpretado corretamente. Depois de falar das outras manifestações de Krishna, Krishnadas Kaviraja Goswami explica que Sri Chaitanya Mahaprabhu é este mesmo Svayam Bhagavan Sri Krishna.


Sri krsna caitanya prabhu svayam bhagavan

Tanhara padaravinde ananta pranama

Savarane prabhure kariya namaskara

Ei chaya tenho yaiche kariye vicara


(Cc.Adi 1.42-43)


Sri Chaitanya Mahaprabhu é a Personalidade de Deus; por tanto, prostro-me ilimitadas vezes aos seus pés de lótus. Após oferecer reverências ao Senhor e á todos os seus associados, explicarei agora estas seis diversidades em uma.


Foi assim que Kaviraja Goswami descreveu as seis manifestações de Krishna:


Yadyapi amara guru – caitanyera dasa

Tathapi janiye ami tanhara prakasa


Embora saiba que meu mestre espiritual é um servo de Sri Chaitanya, também sei que ele é a manifestação direta do Senhor.

(Cc. Adi. 1.44)


Saksad dharitvena samasta-sastrair. O significado profundo de hari-tvena é que o mestre espiritual possui as mesmas qualidade que Krishna, mas não é Krishna-visaya, e sim Krishna dasa. Sri Gurudeva é a personificação da misericórdia de Sri Krishna, mas é incorreto dizer que ele é Krishna-visaya.

Até mesmo os karmis, os jnanis e os tapasvis, consideram que o guru não é diferente de de Sri Krishna; mas não devemos ter a errada concepção de que o Guru é Deus. Em sânscrito tal suposição é denominada de aropa. É errado supor que o irreal seja o real. Não é correto por exemplo, dizer que uma árvore de manga recém plantada dá frutos doces, e sim que os dará no seu devido tempo.

Porém, quando se trata do desenvolvimento de nossa bhakti, é essencial praticar aropa. Tecnicamente isto recebe o nome de aropa- siddha- bhakti. A deidade não é diferente de Krishna, é o próprio Krishna. No nosso atual estado condicionado, vemos a deidade como uma estátua de pedra, mas supõe-se que ela é o próprio Krishna. Não podemos servi-la como se ela fosse o próprio Krishna, mas a medida que nosso amor por ela aumenta, perceberemos a deidade da maneira que Sri Chaitanya Mahaprabhu percebia: saksad vrajendra nandana vigraha (a forma pessoal direta de Vrajendra-nandana). A deidade nos revelará sua verdadeira natureza.


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